Será que o trigo merece a fama de inimigo da saúde? Especialistas esclarecem.
O trigo, alimento essencial para a alimentação mundial, é tradicionalmente parte do cardápio do brasileiro, sendo associado ao pão do café da manhã e à cerveja do fim de semana. Nos últimos anos, no entanto, ganhou destaque uma tendência: a popularização de dietas sem glúten. Com ela, surgiram também críticas e teorias controversas, apontando o glúten como o principal vilão para a saúde digestiva. Mas será que o trigo realmente merece ser responsabilizado por distúrbios alimentares?
O trigo como fonte de energia e nutrientes essenciais
O trigo é um dos cereais mais antigos consumidos pelo homem e um pilar da alimentação de bilhões de pessoas ao longo da história. De acordo com o nutrólogo Dr. Ronan Araujo, o trigo é uma excelente fonte de carboidratos complexos, que oferecem energia de longa duração, além de conter fibras, vitaminas do complexo B e minerais essenciais para o funcionamento do organismo. Diversas dietas tradicionais, como a mediterrânea, têm o trigo como base, e em países europeus, por exemplo, o pão faz parte da alimentação diária sem causar maiores problemas digestivos.
“Na Europa, o consumo diário de trigo não é motivo de epidemias de desconfortos digestivos, o que indica que o problema não está no trigo em si, mas em como ele é consumido”, explica Dr. Ronan.
A estrutura do grão de trigo: o que realmente traz benefícios à saúde?
O grão de trigo é composto por três partes principais, cada uma delas rica em diferentes nutrientes:
- Casca: rica em fibras, vitaminas do complexo B e minerais.
- Endosperma: a parte central do grão, fonte de carboidratos.
- Gérmen: concentra proteínas, vitaminas e gorduras saudáveis.
Essas três partes formam a farinha integral, que é mais nutritiva que a farinha refinada amplamente utilizada em produtos industrializados. A farinha refinada perde a casca e o gérmen, o que reduz seus níveis de fibras e nutrientes.
Glúten: vilão ou necessário?
O glúten, uma combinação de duas proteínas do trigo — a gliadina e a glutenina —, é fundamental para a panificação. Ele é o responsável por conferir elasticidade às massas, ajudando o pão a crescer e manter sua textura macia. No entanto, nem todas as pessoas toleram o glúten, e é justamente por isso que algumas dietas sem glúten se tornaram populares.
As condições associadas ao glúten incluem:
- Doença celíaca: Trata-se de uma condição autoimune grave em que a ingestão de glúten provoca uma reação imunológica que danifica o intestino delgado. Afeta cerca de 1% da população e exige uma dieta totalmente sem glúten.
- Sensibilidade ao glúten não celíaca: Caracteriza-se por um desconforto ao consumir glúten, mas sem a resposta autoimune da doença celíaca. Embora os sintomas variem, não há consenso sobre a gravidade dessa condição.
- Alergia ao trigo: Uma reação alérgica às proteínas do trigo, não exclusivamente ao glúten, que pode gerar sintomas desde urticária até dificuldades respiratórias.
Apesar dessas condições, para a grande maioria da população, o glúten não apresenta riscos à saúde. “Há um mito de que o glúten causa inflamação no organismo, mas até o momento, nenhum estudo demonstrou essa relação para pessoas sem doenças associadas ao glúten”, afirma o consenso de especialistas.
Cortar o glúten sem necessidade: benefícios ou prejuízos?
De acordo com especialistas, eliminar o glúten sem uma real necessidade pode, na verdade, trazer prejuízos à saúde. Muitos produtos sem glúten disponíveis no mercado têm mais calorias e menos fibras que os tradicionais, o que pode levar ao ganho de peso e à diminuição da saciedade. “Optar por produtos sem glúten não deve ser uma escolha feita sem acompanhamento, pois, sem a devida orientação, os resultados podem ser prejudiciais”, alerta Dr. Ronan.
O mito do trigo “modificado” e a força do glúten
Nos últimos anos, uma teoria popularizou-se: o trigo moderno seria mais rico em glúten do que o trigo do passado, e ainda teria sido geneticamente modificado, o que supostamente teria levado ao aumento das intolerâncias. No entanto, especialistas apontam que essa teoria é um mito.
“O trigo passou por melhoramentos, mas isso não implica que o conteúdo de glúten tenha aumentado. O que foi aprimorado foi a ‘força do glúten’, ou seja, sua capacidade de formar uma rede mais resistente, o que torna os pães mais macios e com melhor textura”, explica Dr. Ronan.
A onda de produtos sem glúten, portanto, atende a uma necessidade de uma pequena parcela da população que realmente precisa evitar essa proteína, mas, para a maioria, o trigo e o glúten podem ser consumidos com segurança, sem grandes riscos à saúde.
O que realmente prejudica a digestão?
De acordo com o médico nutrólogo Ronan Araujo, muitas pessoas afirmam sentir desconforto ao consumir produtos com trigo, mas esse incômodo, na maior parte das vezes, está relacionado aos produtos industrializados. Pães, bolos e biscoitos comerciais frequentemente contêm aditivos, conservantes e açúcares, substâncias que podem dificultar a digestão e causar desconforto. “Experimente um pão de fermentação natural, feito apenas com farinha, água e sal. A fermentação natural melhora a digestibilidade do glúten, pois as enzimas do fermento ‘pré-digerem’ parte das proteínas”, sugere Dr. Ronan.
Portanto, ao escolher produtos à base de trigo, priorizar opções mais naturais, como pães de fermentação natural, pode ajudar a melhorar a digestão e reduzir desconfortos.
Quando cortar o glúten?
Cortar o glúten da dieta só é realmente necessário para quem tem condições como doença celíaca, sensibilidade ao glúten não celíaca ou alergia ao trigo. Para as demais pessoas, o consumo de trigo e glúten pode ser parte de uma alimentação saudável e equilibrada. Em vez de eliminar esses alimentos, o ideal é focar em escolhas mais naturais e menos processadas, como pães integrais e outros produtos com grãos inteiros.
Conclusão: O trigo e o glúten podem ser aliados da saúde
Embora o trigo e o glúten tenham sido alvo de críticas, especialmente com a popularização das dietas sem glúten, a ciência mostra que, para a maioria das pessoas, esses alimentos podem ser consumidos com segurança. O trigo, principalmente na forma integral, oferece nutrientes importantes e pode ser uma excelente fonte de energia para o dia a dia. “Se você sente algum desconforto digestivo, observe a qualidade dos produtos que consome e, se possível, opte por pães e massas com fermentação natural. O pãozinho do café da manhã ou a massa do fim de semana não precisam ser cortados — eles só precisam ser saboreados com equilíbrio e consciência”, conclui Dr. Ronan Araujo.
Mais Sobre Dr. Ronan Araujo
O Dr. Ronan Araujo é médico especializado em nutrologia e membro da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (ABESO). Com foco em transformação de estilo de vida e saúde, ele tem sido reconhecido por seu trabalho inovador na área de emagrecimento e reposição hormonal. Dr. Ronan acredita que “não se trata apenas de emagrecimento, mas de transformar vidas”, e tem se destacado no tratamento de pacientes com enfoque na estética e saúde.