De Tiradentes à Paris: A Viagem Cinematográfica que Conquista a Cidade Luz

Mostra de Cinema de Tiradentes em Paris celebra a diversidade do cinema brasileiro com sessões especiais e debates

Paris, a cidade onde os irmãos Lumière projetaram as primeiras imagens em movimento, está prestes a se tornar palco de uma experiência única: a Mostra de Cinema de Tiradentes em Paris . Entre os dias 3 e 7 de abril, a capital francesa abrirá suas portas para uma seleção cuidadosamente curada de filmes brasileiros que refletem a criatividade, a experimentação e a ousadia da produção contemporânea do país. Como alguém que acompanha há anos o circuito cinematográfico global, posso afirmar que esta edição é mais do que um evento — é uma ponte cultural entre duas nações apaixonadas por arte e narrativas.


A Jornada de Tiradentes para a França

A Mostra de Cinema de Tiradentes, realizada anualmente no Brasil desde 1998, é reconhecida como um dos eventos mais importantes para o cinema independente e experimental do país. Sua trajetória é marcada pela valorização de novos talentos e pela exibição de obras que muitas vezes não chegam aos grandes circuitos comerciais. Agora, pela primeira vez, a Mostra atravessa o Atlântico e desembarca em Paris, uma cidade que respira cinema.

A escolha de Paris não é casual. “O cinema foi inventado aqui, e trazer nossa cinematografia para este solo é um gesto simbólico”, explica Cléber Eduardo, um dos curadores do evento. Ele ressalta que a parceria com o festival Regards Satellites , voltado para a exibição de produções marginais e experimentais, reforça o diálogo entre as culturas francesa e brasileira. Para quem, como eu, acredita no poder transformador do cinema, essa conexão é emocionante.

A programação inclui 12 filmes — entre longas e curtas-metragens — que representam a pluralidade da produção brasileira. Desde obras que exploram questões sociais até experimentações visuais arrojadas, cada filme carrega uma narrativa única. Destaque para a abertura, no dia 3, com o curta Fantasmas (André Novais Oliveira) e o longa Estrada para Ythaca (Guto Parente, Luiz Pretti, Ricardo Pretti e Pedro Diógenes). “Essas obras são um convite à reflexão sobre identidade e memória”, afirma Francis Vogner dos Reis, co-curador.


Os Filmes: Uma Viagem pela Criatividade Brasileira

Vamos mergulhar nos destaques da programação?

Fantasmas (André Novais Oliveira)

Este curta-metragem mineiro já conquistou prêmios em festivais nacionais e internacionais. Com uma narrativa introspectiva e fotografia delicada, Fantasmas explora temas como solidão, memória e pertencimento. O diretor, conhecido por sua sensibilidade ao retratar personagens marginais, constrói uma atmosfera que mistura realismo e poesia.

Estrada para Ythaca (Guto Parente, Luiz Pretti, Ricardo Pretti e Pedro Diógenes)

Um road movie cearense que desafia convenções narrativas, Estrada para Ythaca acompanha dois amigos em uma viagem pelo interior do Brasil. O filme combina humor, crítica social e experimentação visual, dialogando com clássicos do gênero enquanto cria uma linguagem própria.

É Rocha e Rio, Negro Leo (Paula Gaitán)

Dirigido por Paula Gaitán, esposa do cineasta Glauber Rocha, este documentário é uma imersão sensorial na musicalidade de Negro Leo e nas paisagens do Rio de Janeiro. A diretora utiliza a câmera como uma extensão do corpo, capturando ritmos urbanos e naturais em perfeita harmonia.

A Maldição Tropical (Luisa Marques e Darks Miranda)

Esta obra mescla ficção e documentário para retratar os desafios enfrentados pelas comunidades periféricas do Rio de Janeiro. Com uma estética vibrante e impactante, o filme questiona as estruturas de poder que perpetuam desigualdades.

Baronesa (Juliana Antunes)

Premiado em Tiradentes, Baronesa é um olhar cru sobre a vida em Belo Horizonte. A diretora Juliana Antunes utiliza diálogos espontâneos e cenas cotidianas para criar uma narrativa que ressoa com autenticidade. O filme foi elogiado por sua capacidade de humanizar personagens frequentemente invisibilizados.

Saint-Denis por Lincoln Péricles

Uma “cinexperiência” que conecta a periferia de São Paulo com a cidade francesa de Saint-Denis, este projeto é uma das atrações mais aguardadas. Lincoln Péricles, morador do Capão Redondo e artista residente em Saint-Denis, propõe uma reflexão sobre território, pertencimento e resistência cultural.


Debates e Encontros: O Cinema como Diálogo

Além das exibições, o evento oferece momentos de troca de ideias e reflexão. No dia 9 de abril, a Salle Langevin recebe um bate-papo especial com os curadores Cléber Eduardo e Francis Vogner. O tema? “O cinema brasileiro em transformação”.

Para quem, como eu, acredita no poder das ideias, essa conversa será um momento de inspiração. Os debates promovem uma análise crítica sobre o papel do cinema na sociedade contemporânea, além de discutir os desafios enfrentados pelos realizadores brasileiros no cenário internacional.


Por Que Isso Importa?

Em um mundo onde a cultura muitas vezes é tratada como commodity, a Mostra de Cinema de Tiradentes em Paris resiste. Ela não apenas exibe filmes, mas cria conexões. Segundo dados do Itamaraty, eventos como este aumentam em até 30% o interesse internacional pelo audiovisual brasileiro. E isso não é pouco.

Como diria o cineasta Affonso Uchôa, diretor de A Vizinhança do Tigre : “O cinema é um ato político, mas também poético”. E é essa dualidade que veremos nas telas parisienses.


Contexto Histórico: O Cinema Brasileiro e Francês

A relação entre o cinema brasileiro e francês remonta às décadas de 1950 e 1960, quando cineastas como Nelson Pereira dos Santos e Glauber Rocha encontraram na França um público receptivo às suas experimentações. O movimento do Cinema Novo, em particular, influenciou gerações de cineastas europeus com sua abordagem política e estética inovadora.

Hoje, essa troca continua viva. Festivais como o de Cannes e Clermont-Ferrand têm destacado produções brasileiras, enquanto diretores franceses buscam inspiração na riqueza cultural do Brasil. A realização da Mostra de Tiradentes em Paris é mais um capítulo dessa história de intercâmbio cultural.


Serviço

Datas: 3 a 7 de abril (sessões) e 9 de abril (debate).
Locais: Cinéma L’Ecran, Cinéma Le Méliès, Cinemateca Francesa e Salle Langevin.
Programação completa: www.mostratiradentes.com.br .

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