No início da madrugada de quinta-feira, dia 5 de outubro, um trágico incidente abalou a tranquilidade da orla da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Um grupo de médicos, que estava aproveitando um momento de lazer à beira-mar, foi alvo de um ataque a tiros que resultou na morte de três profissionais da saúde e deixou um deles hospitalizado em estado grave. O que torna esse evento ainda mais chocante é a suspeita de que o alvo dos criminosos fosse, na verdade, um miliciano da região de Jacarepaguá chamado Taillon de Alcântara Pereira Barbosa, que pode ter sido confundido com um dos médicos presentes.
Taillon Barbosa, que estava em prisão domiciliar desde março e havia obtido liberdade condicional em setembro, teve seu endereço na Avenida Lucio Costa, a mesma onde ocorreu o ataque. A investigação sugere que sua semelhança física com o médico Perseu Ribeiro Almeida, uma das vítimas, pode ter levado os criminosos a atirar por engano.
Os principais suspeitos do crime são membros de facções de traficantes que disputam o controle das comunidades de Jacarepaguá com milicianos de Rio das Pedras, na Zona Oeste do Rio. Juan Breno Malta Ramos Rodrigues, conhecido como BMW, e Philip Motta Pereira, vulgo Lesk ou CR7, são os nomes que estão no centro das investigações. Lesk, anteriormente um miliciano, teria mudado de lado para se unir ao Comando Vermelho e liderou a invasão de traficantes na comunidade da Gardênia Azul, em Jacarepaguá. BMW, por sua vez, é considerado o braço direito de Lesk e é suspeito de estar envolvido na ação criminosa.
Essa reviravolta na trajetória criminosa de Lesk, que trocou a milícia pelo tráfico, ilustra a complexidade do cenário de criminalidade no Rio de Janeiro, onde grupos armados disputam territórios e poder em comunidades. A história de Taillon Barbosa também está intrinsecamente ligada à milícia, já que ele é filho de Dalmir Pereira Barbosa, um ex-policial militar expulso da corporação e citado na CPI das Milícias em 2008 como um dos líderes de Rio das Pedras, conhecido como “Barriga”. Dalmir foi denunciado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro em 2009 por integrar a milícia e, em 2020, junto com outras 44 pessoas, foi acusado de envolvimento com a organização criminosa miliciana que domina a região de Rio das Pedras e áreas adjacentes.
As investigações sobre esse trágico episódio também lançam luz sobre a influência dos criminosos em comunidades, onde controlam serviços como transporte alternativo, venda ilegal de gás, serviços de internet e “segurança”. Essas atividades ilegais perpetuam o ciclo de violência e instabilidade nas áreas afetadas, colocando em risco a vida de cidadãos inocentes, como os médicos que foram vítimas desse terrível ataque.
À medida que as autoridades continuam a investigar esse incidente e a relação entre os grupos criminosos envolvidos, fica claro que a segurança pública no Rio de Janeiro continua sendo um desafio complexo e multifacetado. A busca por soluções eficazes para lidar com a criminalidade organizada, seja ela de origem miliciana ou ligada ao tráfico de drogas, permanece uma prioridade urgente para garantir a paz e a segurança das comunidades cariocas.