Popularizada por serviços sob demanda como Netflix ou Spotify, assinaturas digitais são utilizadas em aluguel de automóveis, casa e até planos de saúde; sistema descentralizado criado por brasileiros traz mais segurança e possibilidade de antecipar parte das receitas de assinaturas por meio de contratos inteligentes
Relatório publicado no site What´s New In Publishing indica que o mercado de assinaturas digitais deve mais do que dobrar até 2025. Popularizado pelos serviços de streaming e conteúdo sob demanda como Netflix e Spotify, esse modelo de negócio inclui bens mais caros e de mercados diferentes, como carro, casa e até vestuário por assinatura. Atualmente avaliado em 650 bilhões de dólares, os serviços a partir de assinaturas digitais podem atingir a marca de 1,5 trilhão de dólares nos próximos três anos.
Desenvolvida pelos belo-horizontinos da H3aven e premiada em abril na edição de Tóquio do ETHGlobal Hackathon, uma aplicação em blockchain de armazenamento descentralizado abre novas possibilidades ao modelo de negócio, como a garantia de mais privacidade e segurança para os dados criptografados dos assinantes ou a viabilidade de antecipação de receitas das assinaturas por meio de contratos inteligentes — ou seja, sem recorrer a bancos ou investidores.
“Hoje, se um negócio precisa de fluxo de caixa, tem que buscar formas tradicionais de investimentos. Com essa tecnologia aplicada aos contratos inteligentes, a mesma empresa pode antecipar de 2% até 28% de suas próprias receitas futuras das assinaturas”, explica Antonio Hoffert, CEO da H3aven. “Como assinaturas são bens elásticos, é possível, então, abaixar o preço para atrair mais membros e obter mais receita durante um determinado período”.
A tecnologia, batizada de “Tokenized Access Control”, é uma interface na qual as empresas transformam as assinaturas em NFTs (sigla em inglês para tokens não fungíveis). Com ele, é possível também evitar o gasto com a duplicidade de credenciais e garantir o histórico absoluto daquela assinatura, já que novos dados de pagamento ou upgrades no serviço contratado modificariam o token deste usuário. A aplicação deve estar disponível ao mercado em setembro de 2023.
“É um sistema descentralizado e distribuído que pode ser utilizado por plataformas digitais e tradicionais”, diz Hoffert, que usa a Netflix como exemplo. “Hoje, a Netflix usa credenciais tradicionais para o usuário, ou seja, email e senha. E ela poderia continuar tendo essa facilidade de login via email e senha. Porém, atrás desse processo, aconteceria uma ‘tokenização’ da credencial”. Cada usuário, portanto, teria um NFT, espécie de “artefato” pelo qual o acesso ao serviço seria gerenciado.
A interface pode atuar também na questão do compartilhamento de assinaturas, um dos problemas do modelo de negócio de algumas empresas de conteúdo sob demanda. “A ideia é que as pessoas fiquem mais cautelosas. Você não poderá mais partilhar informações de acesso, já que qualquer pessoa pode utilizar seu NFT, e, assinando com a chave privada, realizar uma transação em seu nome, por exemplo”.
Premiação em Tóquio
A solução da H3aven recebeu prêmios da Polygon – plataforma líder para escalonamento Ethereum e desenvolvimento de infraestrutura, da Airstack — plataforma que otimiza o gerenciamento, a integração e a utilização de blockchain e da Filecoin Virtual Machine, ecossistema referência para execução de contratos inteligentes, na última ETHGlobal Hackathon, maior evento mundial do setor.
Segundo Izabela Guarino, gestora do projeto em Tóquio, a premiação reflete a urgência de tangibilizar a antiga promessa da Web3, na qual usuários comuns passam a ter soberania em relação aos seus dados.