Em contraponto, caso o BC perceba chance de “repique” inflacionário devido ao câmbio e aos custos de energia, não haverá cortes; para investidores, o cenário é desafiador
Na próxima quarta-feira (6), novas Taxas de Juros serão definidas pelo Banco Central. Especialistas da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (FIPECAFI) estimam que, dependendo dos indicadores e do comportamento do mercado global, a Taxa Selic máxima neste ciclo possa ficar entre 11% e 12% ao ano no primeiro semestre. Para esta reunião, projeta-se que ela chegue a 11,25%, com possíveis ajustes conforme a resposta do mercado e da inflação.
“Na próxima reunião, espera-se que o Banco Central considere essas pressões inflacionárias ao determinar a Taxa Selic. No entanto, o atual ciclo de alta dos juros no Brasil deve ser analisado com moderação, especialmente se a inflação projetada se mantiver dentro da meta ou se estabilizar. Caso o Banco Central perceba uma possibilidade de ‘repique’ inflacionário devido ao câmbio e aos custos de energia, não haverá cortes na Selic“, explica George Sales, coordenador do Mestrado Profissional em Controladoria e Finanças na FIPECAFI.
Sales destaca fatores que impulsionam a inflação, como o aumento das bandeiras tarifárias da conta de energia, a elevação do câmbio e o aquecimento do consumo com o décimo terceiro salário. Estes elementos, somados às expectativas sobre as eleições norte-americanas, trazem incertezas que afetam diretamente as decisões do Banco Central.
“No curto prazo, a pressão inflacionária oriunda da energia e do câmbio tende a impactar os custos para empresas e consumidores, especialmente no varejo, setor que historicamente aquece com o período de festas”, observa Sales.
Para o início do próximo ano, Sales projeta a continuidade da pressão inflacionária com correções de preços ainda reverberando no setor de consumo. A evolução dos índices e da taxa de câmbio, pressionada pela volatilidade global e desdobramentos das eleições americanas, será observada com cautela pelo Banco Central.
“As políticas econômicas do governo eleito nos EUA impactam o dólar e a liquidez global, afetando os mercados emergentes como o Brasil. Caso o dólar continue em alta, produtos importados, insumos industriais e a energia tendem a ficar mais caros, reforçando a tendência de inflação em 2024″, alerta o especialista.
Investimentos
Para investidores, o cenário é desafiador, mas também apresenta oportunidades em setores que podem se beneficiar de um ambiente inflacionário ou de um dólar alto. Empresas exportadoras tendem a ter melhores resultados com um câmbio elevado, enquanto setores defensivos, como alimentos e utilidades públicas, oferecem menor volatilidade.
“Em relação aos títulos públicos, as taxas futuras apresentam um prêmio atrativo e uma oportunidade para o investidor conservador. Mesmo com cortes futuros na Selic no final de 2025, a remuneração pode ser interessante para compor carteiras mais seguras”, destaca Sales.
George Sales também ressalta que o Brasil precisa alinhar esforços para reduzir a volatilidade cambial e controlar a inflação com políticas fiscais e monetárias coerentes. Em um cenário de incerteza global, políticas internas de estabilidade são fundamentais para manter o crescimento sustentável e reduzir os impactos externos, especialmente os vindos das decisões políticas e econômicas dos EUA.
“No médio e longo prazo, o desafio de manter uma inflação controlada e uma taxa Selic estável passa pela eficiência fiscal e por uma política cambial que possa amortecer choques externos, proporcionando um ambiente mais previsível para investidores e consumidores”, finaliza.