
Celebração Ancestral: Oxumaré, o Arco-Íris da Transformação
O Carnaval de Salvador é conhecido mundialmente por sua energia contagiante, mas este ano promete ser ainda mais especial com o desfile do Afoxé Olorum Baba Mi . Na terça-feira (4), às 18h, o grupo tomará as ruas do circuito Batatinha, no coração do Pelourinho, para homenagear Oxumaré, o orixá do arco-íris, da renovação e da riqueza. Completando 46 anos de existência, o afoxé trará uma mensagem poderosa de inclusão e transformação, reafirmando a importância da diversidade cultural e do respeito às identidades.
Como jornalista apaixonado pela cultura brasileira, vejo nesse desfile mais do que um espetáculo visual e sonoro. É uma celebração profunda das raízes africanas que moldaram nossa identidade nacional. E, ao escolher Oxumaré como tema central, o Afoxé Olorum Baba Mi não apenas exalta uma divindade ancestral, mas também amplia o diálogo sobre temas urgentes como justiça social, luta contra o racismo e combate à LGBTfobia.
Quem é Oxumaré? A Dualidade e o Ciclo Contínuo da Vida
Para compreender a magnitude dessa homenagem, é essencial conhecer quem é Oxumaré. Filho de Nanã Buruku e irmão de Omulu, Ossain e Ewa, esse orixá representa a dualidade e a transição entre masculino e feminino, bem como o equilíbrio entre o material e o espiritual. Seus símbolos — a serpente e o círculo — simbolizam o ciclo contínuo da vida, da prosperidade e da renovação.
No desfile, essa simbologia será traduzida em figurinos vibrantes, coreografias inspiradas na serpente e na percussão contagiante típica dos afoxés. Cada detalhe foi pensado para criar uma experiência cultural e espiritual única para os foliões. “Sob o arco-íris de Oxumaré, o Afoxé Olorum Baba Mi leva às ruas uma mensagem de transformação e esperança”, destaca Lucimar Santos, presidente do afoxé, em entrevista exclusiva.
A narrativa visual seguirá a sequência cromática do arco-íris, começando com a ala violeta e culminando no vermelho. Cada cor representará um orixá ligado à trajetória de Oxumaré, desde Nanã até Obaluaê. Essa abordagem não apenas enriquece o desfile, mas também educa o público sobre a complexidade e beleza das tradições de matriz africana.
Um Espetáculo Visual e Sonoro: A Arte do Afoxé Olorum Baba Mi
Os figurinos e adereços do desfile são verdadeiras obras de arte. Em tons de amarelo, verde e multicoloridos, eles refletem a estética de Oxumaré, enquanto os detalhes manuais remetem à sua energia e poder. As coreografias, inspiradas nos movimentos sinuosos da serpente e nas curvas do arco-íris, prometem encantar os espectadores.
Mas o que realmente diferencia o Afoxé Olorum Baba Mi é sua sonoridade marcante. O repertório musical resgata cânticos tradicionais e ritmos ancestrais, conectando passado e presente. Para mim, como alguém que já teve a oportunidade de presenciar apresentações semelhantes, há algo profundamente emocionante em ouvir esses cânticos ecoarem pelas ruas do Pelourinho. É como se cada nota carregasse consigo séculos de história e resistência.
Além do Carnaval: O Papel Social do Afoxé
Embora o desfile seja o ponto alto do Afoxé Olorum Baba Mi durante o Carnaval, sua atuação vai muito além dos festejos. Desde sua fundação em 1979, o grupo tem desempenhado um papel fundamental na valorização da cultura afro-brasileira e na promoção da inclusão social. Através de oficinas de dança, samba de roda, artes plásticas e fabricação de instrumentos percussivos, a entidade capacita jovens e mulheres negras, incentivando o empreendedorismo e a autonomia cultural.
Os ensaios comunitários realizados no Centro Histórico e na Feira de São Joaquim são outro exemplo dessa dedicação. Eles não apenas fortalecem os laços entre os integrantes, mas também transformam o conhecimento ancestral em ferramenta de empoderamento. Para Lucimar Santos, “preservar a cultura afro-brasileira é um ato político. É resistir à tentativa de apagamento histórico e garantir que as futuras gerações tenham acesso a suas raízes.”
Reflexões Sobre Renovação e Justiça Social
Ao escolher Oxumaré como tema central, o Afoxé Olorum Baba Mi faz mais do que celebrar uma divindade; ele convida o público a refletir sobre questões fundamentais para a sociedade contemporânea. Como símbolo de renovação e diversidade, Oxumaré inspira debates sobre inclusão e respeito às diferenças.
Em um país onde o racismo e a LGBTfobia ainda são realidades dolorosas, iniciativas como essa são essenciais. Elas lembram que a luta por justiça social deve ser constante e que a cultura pode ser uma poderosa arma de transformação. Sob o arco-íris de Oxumaré, o desfile não apenas homenageia uma tradição milenar, mas também projeta um futuro mais justo e igualitário.
Conclusão: Um Convite à Celebração e à Reflexão
O desfile do Afoxé Olorum Baba Mi no Carnaval de Salvador é muito mais do que um evento cultural. É um convite à celebração da ancestralidade, da diversidade e da resistência. Ao homenagear Oxumaré, o grupo reafirma seu compromisso com a valorização das tradições de matriz africana e com a construção de uma sociedade mais inclusiva.
Como jornalista, fico impressionado com a forma como o afoxé consegue unir arte, cultura e ativismo em uma só apresentação. E, como cidadão, sou grato por testemunhar iniciativas que nos lembram da importância de preservar nossas raízes enquanto lutamos por um futuro melhor.
Se você está em Salvador ou planeja visitar a cidade durante o Carnaval, não perca a oportunidade de assistir ao desfile do Afoxé Olorum Baba Mi. Será uma experiência inesquecível que certamente deixará marcas profundas em sua alma.