O setor de Tecnologia da Informação (TI) está em uma trajetória ascendente. As previsões indicam que ele crescerá 12% no Brasil este ano, uma taxa superior à dos Estados Unidos, que deverá ser de apenas 9%, de acordo com dados da IDC. Isso mostra que, apesar das instabilidades econômicas globais, o mercado brasileiro de tecnologia segue firme, com investimentos robustos. No entanto, o setor enfrenta um problema que não é novo, mas que se torna cada vez mais preocupante: a dificuldade de encontrar profissionais qualificados. Sim, com todas essas vagas e oportunidades, por que ainda é tão difícil preencher as posições abertas?
O Crescimento do Setor de TI no Brasil
Em 2023, o Brasil investiu quase 50 bilhões de dólares em TI, conforme o estudo “Mercado Brasileiro de Software – Panorama e Tendências 2024”, da ABES (Associação Brasileira das Empresas de Software). Isso mostra o tamanho da aposta no setor, o que não surpreende quando vemos a digitalização acelerada e a adoção de novas tecnologias, como a nuvem, automação e inteligência artificial. A pandemia de Covid-19 também acelerou essa transformação digital, obrigando empresas de todos os setores a modernizarem suas operações rapidamente.
No entanto, há uma clara contradição: o setor cresce, as empresas investem, mas os talentos necessários para operar e otimizar essas novas tecnologias estão em falta. O estudo “Força de Trabalho 2.0 – Desbloqueando o Potencial Humano em um Mundo Impulsionado por Tecnologias”, da Mercer, indica que 48% dos líderes de RH consideram a escassez de habilidades um dos maiores desafios para os negócios.
Por que está tão difícil encontrar talentos em TI?
Bom, uma das razões pode ser encontrada no simples fato de que o mercado de TI é relativamente novo. André Barrence, diretor do Google for Startups na América Latina, destaca que a primeira geração que cresceu rodeada por aparelhos tecnológicos está apenas agora entrando na vida adulta. O primeiro computador pessoal, o IBM 5150, surgiu há cerca de 40 anos. Isso significa que muitos profissionais ainda estão no início de suas trajetórias e, como resultado, há uma escassez de especialistas seniores no mercado.
Outro ponto relevante é a concentração regional das oportunidades. Cerca de 62% das vagas de TI estão no Sudeste, e 44% somente no estado de São Paulo. Essa distribuição desigual dificulta o acesso a essas oportunidades por profissionais de outras regiões, ampliando ainda mais o abismo entre a oferta e a demanda.
A Corrida pela Capacitação
E não é só a falta de experiência que complica as coisas. O avanço das tecnologias digitais cria uma pressão adicional para que os profissionais se mantenham constantemente atualizados. Segundo o relatório da Google for Startups, 54% dos potenciais talentos acham muito difícil cumprir todos os requisitos para vagas de nível júnior. Isso é um sinal claro de que, para muitos, o ingresso no mercado de tecnologia pode parecer uma maratona interminável.
Para Ana Letícia Lucca, CRO da Escola da Nuvem, uma organização social que prepara pessoas em situação de vulnerabilidade para carreiras em computação em nuvem, a competição se acirrou ainda mais com a pandemia. “O setor de TI passou por grandes demissões, o que aumentou a competitividade do mercado. Profissionais experientes que foram dispensados agora disputam vagas que antes eram mais acessíveis para iniciantes ou pessoas de perfis menos convencionais”, explica Ana Letícia.
Esse cenário torna o ingresso de novos talentos, especialmente de grupos vulneráveis, ainda mais desafiador. A barreira para muitos não está apenas no conhecimento técnico, mas na falta de recursos para estudar ou nas poucas oportunidades de capacitação.
Inteligência Artificial e a Falta de Mão de Obra Qualificada
A inteligência artificial (IA) é uma área promissora e ao mesmo tempo problemática. Apesar do seu potencial de transformar o setor de tecnologia, a falta de profissionais especializados na área cria um obstáculo para muitas empresas. De acordo com a pesquisa “Antes da TI, a Estratégia”, da IT Mídia, 58% das lideranças de TI acreditam que é necessário mais conhecimento sobre IA antes de investir nessa tecnologia. Além disso, 84% dos entrevistados sentem falta de profissionais qualificados para lidar com IA, evidenciando mais uma vez a escassez de mão de obra preparada para enfrentar os desafios desse campo específico.
Ana Letícia reforça que a área de TI exige constante atualização de habilidades, principalmente com a competição global por talentos. “As empresas precisam investir em programas de capacitação para garantir que os profissionais estejam preparados para lidar com as novas demandas tecnológicas”, comenta.
Inclusão e Diversidade no Setor de TI
Uma alternativa que vem ganhando destaque para ampliar a oferta de talentos é a implementação de vagas afirmativas. Essas vagas visam incluir grupos que historicamente enfrentaram dificuldades para ingressar no mercado de trabalho, como mulheres, pessoas negras e indígenas, pessoas com deficiência e a comunidade LGBTQIAPN+.
No entanto, não basta apenas oferecer vagas. É necessário criar programas de mentoria, treinamento e apoio para garantir que esses profissionais estejam bem inseridos no ambiente de trabalho. O Guia Salarial Tech de 2024, da Fox Human Capital, aponta que a demanda por vagas afirmativas aumentou significativamente entre 2023 e o início de 2024.
Segundo Ana Letícia, “a diversificação das fontes de talentos é essencial para garantir uma força de trabalho preparada e sustentável no longo prazo. Ao investir na formação de novos profissionais e ampliar as oportunidades para perfis diversos, as empresas podem não só preencher suas necessidades imediatas, mas também construir uma base de talentos para o futuro”.
O Futuro dos Profissionais de TI
Uma questão importante no futuro do mercado de TI é o conflito de gerações. O relatório da Fox Human Capital mostrou que a Geração Z, composta por nativos digitais, tem facilidade em absorver novas informações, o que é uma vantagem no setor. Contudo, essa geração apresenta dificuldades em habilidades emocionais, como comunicação e engajamento no trabalho. A pesquisa “Glassdoor’s 2024 Workplace Trends” revelou que 39% da Geração Z tem dificuldades de comunicação, e 33% não parecem interessadas ou engajadas com o trabalho.
Para gerenciar essa nova geração, as empresas precisarão se adaptar, adotando práticas como escuta ativa, benefícios personalizados e planos de carreira individualizados. É fundamental criar um ambiente de trabalho que valorize tanto as habilidades técnicas quanto as emocionais.
Desafios e Soluções para o Mercado de TI
Eu vejo o mercado de TI como uma força imensa de transformação para o país, mas que ainda enfrenta barreiras importantes. A questão da qualificação é uma delas, e parece que a solução está tanto nas mãos das empresas quanto dos próprios profissionais. Investir em programas de capacitação, como os oferecidos pela Escola da Nuvem, é crucial. Além disso, incluir mais diversidade no setor é uma estratégia não apenas ética, mas também eficiente para ampliar a base de talentos.
Como um apaixonado por tecnologia, fico animado com o futuro. Acredito que, se as empresas brasileiras continuarem a investir na formação de profissionais e a adotar políticas inclusivas, o setor de TI poderá alcançar patamares ainda mais altos. Mas também fico preocupado com a concentração regional das vagas e com o desafio de se adaptar às novas gerações. Afinal, o mercado pode estar em crescimento, mas ainda há um longo caminho a percorrer para garantir que todos tenham acesso às oportunidades que ele oferece.
Pontos-chaves que precisam de atenção:
- Concentração Regional de Vagas: O Sudeste, especialmente São Paulo, ainda detém a maior parte das vagas de TI, o que dificulta o acesso de talentos de outras regiões.
- Capacitação Constante: A atualização das habilidades técnicas é imprescindível, especialmente com o avanço da IA e outras tecnologias disruptivas.
- Inclusão e Diversidade: A adoção de políticas afirmativas pode ajudar a preencher o hiato de talentos, ao mesmo tempo em que promove um ambiente mais inclusivo.
- Conflito de Gerações: É importante que as empresas adaptem suas estratégias de gestão para lidar com a Geração Z, equilibrando habilidades técnicas e emocionais.
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