A Festa Literária das Periferias (FLUP) deste ano está se aproximando, e o que podemos esperar é um verdadeiro espetáculo de celebração da cultura negra e periférica, tanto do Brasil quanto do exterior. Com uma curadoria que mistura nomes nacionais e internacionais de peso, o evento deste ano, que ocorre de 11 a 17 de novembro, promete ser uma das edições mais memoráveis até hoje. Confesso que não há como não se empolgar com a proposta que a FLUP traz para 2024, especialmente com o tema “Roda a saia, gira a vida”, que já antecipa um mergulho profundo nas questões de resistência e comunidade, simbolizadas na figura de Beatriz Nascimento.
Curadoria Internacional e Nacional: Conexões Poderosas
A curadoria deste ano é um verdadeiro espetáculo por si só. Liderando a parte internacional, temos a professora e pesquisadora franco-senegalesa Mame-Fatou Niang. Com uma bagagem incrível em estudos franceses e francófonos, Niang é conhecida por seu trabalho sobre a negritude contemporânea na França. Eu sempre admirei como ela consegue trazer uma crítica afiada à razão pseudo-universalista, ao mesmo tempo em que defende um universalismo pós-colonial, que é tão necessário em nossos dias.
A curadoria nacional está nas mãos de Duda Nascimento e Jefferson Barbosa, dois nomes que são verdadeiros gigantes na promoção da cultura e dos direitos das periferias no Brasil. E, claro, a parte cultural das rodas de samba não poderia estar em melhores mãos do que nas de Vanessa Pereira, uma sambista que já deixou sua marca no circuito cultural do Rio de Janeiro. É uma tríade de curadores que não só entende, mas vive e respira a cultura das periferias.
Um Evento que é Patrimônio Cultural
A FLUP não é apenas mais um evento cultural; ela é um patrimônio. Em 2023, foi oficialmente declarada patrimônio cultural imaterial pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro. E não é para menos! A FLUP tem um histórico de levar discussões profundas e necessárias sobre literatura, cultura e as questões sociais das periferias para o centro das atenções, não só no Brasil, mas também globalmente. E este ano, o palco escolhido para isso não poderia ser mais icônico: o Circo Voador, na Lapa, um lugar que por si só já respira cultura e história.
Mame-Fatou Niang: A Voz Internacional da Negritude
Não posso deixar de destacar a importância de termos Mame-Fatou Niang como curadora internacional. Autora de livros e documentários sobre negritude e identidade, Niang é uma das maiores especialistas em questões pós-coloniais da atualidade. Sua trajetória acadêmica é impressionante, tendo sucedido nomes como Michel Foucault e Jacques Derrida na Cátedra Melodia Jones de Estudos Franceses na Universidade Estadual de Nova York, em Buffalo.
Para mim, é inspirador ver como ela conecta as periferias brasileiras a um diálogo global sobre raça e cultura, algo que, como bem disse Júlio Ludemir, diretor-fundador da FLUP, “não pode ser ignorado nas discussões econômicas do G20”. Isso mostra como a FLUP vai além da literatura, inserindo-se em discussões globais de relevância crucial.
Curadoria Nacional: Uma Homenagem à Cultura Periférica
No cenário nacional, Duda Nascimento e Jefferson Barbosa são figuras que dispensam apresentações. Duda, com sua experiência na comunicação e pesquisa afro-brasileira, e Jefferson, com seu ativismo e trabalho na Coalizão Negra por Direitos, trazem uma perspectiva rica e autêntica para a curadoria deste ano. Suas trajetórias refletem um comprometimento com a memória e a representação afro-brasileira que é essencial para a identidade da FLUP.
Vanessa Pereira, por sua vez, traz o samba como um fio condutor das rodas culturais da FLUP. Como sambista, escritora e poeta, ela está profundamente enraizada na cultura do samba, algo que transparece em seu trabalho no Sarau da Vá e no programa “Samba é Filosofia e Poesia”. Vanessa entende o samba como uma forma de filosofia, e essa visão certamente enriquecerá as rodas de samba que serão parte integral do evento.
O Poder das Mulheres Negras na FLUP 2024
Outro ponto que me enche de orgulho é o lançamento do “Dicionário Biográfico: Histórias Entrelaçadas de Mulheres Afrodiaspóricas”, que será apresentado na FLUP 2024. Com curadoria de Thaís Alves Marinho e Rosinalda Corrêa da Silva Simoni, essa obra reúne as histórias de 100 mulheres negras que contribuíram significativamente para a construção do Brasil ao longo dos séculos. É emocionante ver como o legado de Beatriz Nascimento continua a inspirar e moldar eventos como este, colocando em prática sua máxima de que “precisamos falar de nós mesmos”.
Thaís Alves Marinho, coordenadora do Programa de Pós-Graduação em História da PUC Goiás, e Rosinalda Corrêa da Silva Simoni, pesquisadora e militante dos movimentos de mulheres negras e quilombolas, são verdadeiras guardiãs da memória afro-brasileira. Elas trazem uma profundidade de conhecimento e uma paixão que são palpáveis, e que certamente farão deste lançamento um dos momentos mais emocionantes da FLUP 2024.
Beatriz Nascimento: Uma Homenagem Necessária
Beatriz Nascimento, a grande homenageada da edição de 2024, é uma figura que sempre me inspirou. Historiadora, poeta e cineasta, ela foi uma defensora incansável dos direitos humanos de negros e mulheres no Brasil. Sua concepção do quilombo como símbolo de resistência e comunidade é um dos pilares que sustentam a programação deste ano. O conceito de quilombo, que vai além de uma simples localização geográfica, sendo uma forma de organização social e resistência, será o foco das discussões contemporâneas das periferias durante o evento.
Atividades Culturais: Slam, Voguing, Passinho e Muito Mais
Não se trata apenas de debates e mesas literárias. A FLUP 2024 vai ferver com uma série de atividades culturais que prometem engajar e inspirar o público. Batalhas de slam, voguing, passinho, rodas de samba e shows de artistas reconhecidos farão parte da programação. É uma celebração da cultura em sua forma mais pura e vibrante, onde a música, a dança e a palavra se encontram para criar algo verdadeiramente único.
Um dos destaques, sem dúvida, será o Ciclo de Debates Aquilombamentos, que trará à tona as principais questões das periferias em um contexto global, dialogando inclusive com o fórum de cooperação econômica do G20, que também acontecerá em novembro no Rio de Janeiro. É uma oportunidade rara de ver como as questões locais podem, e devem, estar conectadas a discussões globais.
Patrocínio e Apoio: Uma Rede de Sustentação
Tudo isso só é possível graças ao apoio de diversas entidades e empresas. A FLUP 2024 é apresentada pelo Ministério da Cultura e pela Shell, que também é o patrocinador master do evento. Além disso, o Instituto Cultural Vale e a Globo, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, também estão patrocinando o festival. A Fundação Ford oferece apoio adicional, e o transporte oficial do evento é realizado pelo Grupo CCR, por meio do Instituto CCR, que opera nas áreas do VLT Carioca e da CCR Barcas.
Esse suporte demonstra o reconhecimento da importância cultural e social da FLUP, que, ao longo de seus 12 anos de existência, já passou por diversos territórios periféricos do Rio de Janeiro, como Morro dos Prazeres, Vigário Geral, Mangueira, Babilônia, Vidigal, Cidade de Deus, entre outros. A FLUP é um espaço onde livros, ideias e experiências que antes estavam à margem são levados ao centro das atenções, proporcionando uma nova forma de vivenciar a literatura.
O Legado da FLUP e a Presença Feminina Negra
Vale lembrar que a FLUP não é apenas um festival; é um movimento. Em 2020, a FLUP foi vencedora do Prêmio Jabuti na categoria Fomento à Leitura, uma conquista que apenas reforça sua relevância no cenário cultural brasileiro. Em 2023, o evento foi elevado ao status de patrimônio cultural imaterial, um reconhecimento mais do que merecido para um festival que tem como missão transformar as experiências literárias e culturais das periferias.
O que torna a FLUP ainda mais especial é o fato de ser um festival feito por equipes majoritariamente negras e com mulheres em cargos de liderança. Isso não é apenas uma questão de representatividade, mas de essência. A FLUP é, em sua essência, um espaço de resistência, de luta e de celebração da cultura negra e periférica, e isso é algo que me faz admirar profundamente este evento.
A Shell e a Sustentabilidade
Por fim, mas não menos importante, gostaria de destacar a importância da parceria com a Shell. Com 111 anos de atuação no Brasil, a Shell é uma companhia de energia que não apenas atende à demanda por energia de forma econômica, mas também de maneira ambiental e socialmente responsável. É revigorante ver como uma empresa desse porte está alinhada com iniciativas que promovem a cultura e a educação, como é o caso da FLUP.
FLUP 2024: Uma Experiência Imperdível
A FLUP 2024 está se moldando para ser um dos eventos culturais mais impactantes do ano, não só no Rio de Janeiro, mas em todo o Brasil. Com uma programação rica, diversas atividades culturais e um foco em questões sociais de extrema relevância, a FLUP é um convite para todos que desejam se conectar com a cultura periférica de uma forma profunda e significativa. E o melhor de tudo? A entrada é gratuita!
Dias: de 11 a 17 de novembro
Hora: a partir de 13h
Local: Circo Voador
Endereço: Rua dos Arcos, s/n, Lapa – RJ
Entrada gratuita
Não deixe de seguir a @fluprj no Instagram para ficar por dentro de todas as novidades e programações. E, claro, marque na agenda, porque esta é uma experiência que você não vai querer perder!
Visite o site oficial da FLUP para mais informações e prepare-se para vivenciar uma celebração cultural única que só a FLUP pode oferecer.