O Canal Brasil apresenta uma nova série que oferece um olhar plural sobre a realidade das trabalhadoras sexuais no país
Nesta segunda-feira, 2 de dezembro, a partir das 22h, o Canal Brasil estreia uma série inédita que promete desafiar o olhar sobre o trabalho sexual no Brasil. Intitulada Puta Retrato – Trabalhadoras Sexuais, a produção, dirigida por Claudia Priscilla e Kiko Goifman, traz à tona as experiências e depoimentos de nove mulheres de diferentes gerações e regiões do Brasil, profissionais do sexo que compartilham suas histórias e reflexões sobre liberdade, desejos, fetiches, feminismo, marginalização e muito mais.
Em um formato de maratona, a série será transmitida em três episódios de 50 minutos, permitindo ao público uma imersão profunda nas vidas dessas mulheres que, ao longo de suas trajetórias, desafiaram normas e estigmas para sobreviver e, muitas vezes, prosperar em um mercado invisibilizado pela sociedade.
Diversidade de Perspectivas sobre o Trabalho Sexual no Brasil
A série é composta por um conjunto de relatos que abrem um diálogo sobre os diferentes aspectos do trabalho sexual no Brasil, oferecendo uma visão plural e humanizada. Nas palavras de Claudia Priscilla, a série busca não apenas mostrar a realidade das trabalhadoras sexuais, mas também questionar como a sociedade encara e marginaliza essas mulheres. “Queremos que o público enxergue essas mulheres além da sua profissão, com todas as complexidades e desafios que elas enfrentam”, afirmou a diretora.
No primeiro episódio, o público é apresentado a três mulheres que possuem uma longa história com a prostituição, abordando temas como resistência, políticas públicas, direitos trabalhistas e os desafios de uma profissão marcada por preconceito. Betânia Santos, de 50 anos, é educadora social e prostituta há 32 anos. Natural do Maranhão e moradora de Campinas, São Paulo, ela é uma das fundadoras da Associação Mulheres Guerreiras: Profissionais do Sexo Unidas Pelo Respeito, ligada à Central Única dos Trabalhadores (CUT). Betânia leva o espectador pelas ruas e boates de Jardim Itatinga, bairro de Campinas considerado o único no Brasil planejado para a prostituição.
Ao lado de Betânia, a ex-prostituta Amara Moira, de 38 anos, também compartilha sua vivência no mercado sexual. Natural de Campinas e hoje residente na capital paulista, Amara é escritora, professora de literatura e uma das vozes mais ativas na defesa da regulamentação da prostituição no Brasil. “Eu acredito que a regulamentação traria um reconhecimento e respeito para essas mulheres. A prostituição é uma realidade e precisa ser tratada como tal”, declara.
A terceira personagem desse episódio é Lia D Castro, de 44 anos, uma mulher trans negra e artista plástica que utiliza suas experiências com clientes como inspiração para suas obras. Nascida em Martinópolis, interior de São Paulo, Lia compartilha como a prostituição se entrelaça com sua arte e identidade. “Minha arte é uma forma de ressignificar a vivência de ser trabalhadora sexual”, revela.
As Realidades de Hoje: Mulheres Jovens, Mães e Ativistas
O segundo episódio da série dá voz a novas gerações de trabalhadoras sexuais, algumas delas ainda jovens, mas já com uma sólida compreensão do mercado em que atuam. Entre elas está Aími Kokoro, de 29 anos, graduanda em Direito, natural do Rio de Janeiro, que entrou para o trabalho sexual aos 18 anos. Aími atende a uma clientela de classe média alta e elite carioca, uma experiência que a permite refletir sobre as desigualdades sociais e os estigmas que acompanham sua profissão. “As pessoas me olham com preconceito, mas eu vejo a prostituição como um meio legítimo de ganhar a vida e ser independente”, compartilha Aími.
Em contraste, Vivi Castelo, de 28 anos, mora no Rio de Janeiro com seus cinco filhos e iniciou no trabalho sexual após o divórcio, buscando sustentar sua família. Ela fundou o coletivo “Divas”, um espaço onde mais de 420 trabalhadoras sexuais compartilham experiências, oportunidades de trabalho e formas de lidar com situações de violência. “O coletivo foi uma forma de nos unirmos para nos fortalecer. Sozinhas, somos vulneráveis, mas juntas, temos mais poder”, explica Vivi.
O episódio também apresenta Natânia Lopes, de 37 anos, escritora, pesquisadora e ativista dos direitos das trabalhadoras sexuais. Ela é membro da Rede Brasileira de Prostitutas e do Coletivo Puta Davida, onde luta por políticas públicas e maior visibilidade para as trabalhadoras do sexo. “O trabalho sexual é uma escolha para muitas, mas também uma necessidade para outras. O importante é que todas tenham seus direitos garantidos”, pontua Natânia.
Por fim, Aline Lopez, de 30 anos, compartilha sua trajetória como trabalhadora sexual desde 2016. Aline viaja para São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, atendendo a clientes fixos. Ela também revela como sua filha de 10 anos já entende a profissão da mãe, vendo-a como alguém contratada para ser a “namorada” de outras pessoas. “Eu nunca escondi de minha filha o que faço. Ela sabe que isso é um trabalho, e sempre procurei fazer tudo com segurança e respeito”, conta Aline.
Experiências de Mulheres em Diferentes Fases da Vida
O terceiro e último episódio da série destaca as histórias de duas mulheres de diferentes gerações que representam a continuidade e as transformações na luta por direitos das trabalhadoras sexuais. Lourdes Barreto, de 80 anos, é uma das pioneiras no movimento pelas trabalhadoras sexuais no Brasil. Natural da Paraíba e residente em Belém do Pará, Lourdes fundou a Rede Brasileira de Prostitutas (RBP) em 1987, o primeiro movimento de trabalhadoras sexuais da América Latina. Ela foi uma das principais defensoras da luta por políticas públicas, especialmente voltadas para a prevenção ao HIV/AIDS. Recentemente, Lourdes lançou sua autobiografia, intitulada Lourdes Barreto: Puta Biografia, que conta sua trajetória de vida e ativismo.
Sany, de 26 anos, moradora de Macaé, no Rio de Janeiro, é uma das novas vozes do movimento. Ela é graduanda em Ciências Biológicas e criou um curso voltado para trabalhadoras sexuais sobre o mercado digital, percebendo a precarização da profissão com a chegada das plataformas virtuais. “A digitalização do mercado trouxe novas oportunidades, mas também aumentou a exploração. É importante que as trabalhadoras se eduquem sobre seus direitos”, defende Sany.
O Impacto de “Puta Retrato – Trabalhadoras Sexuais”
A série Puta Retrato – Trabalhadoras Sexuais vai além de uma simples narrativa sobre a prostituição. Ela busca dar visibilidade a mulheres cujas histórias foram frequentemente silenciadas pela sociedade. Ao reunir depoimentos de mulheres que transitam por diferentes gerações, contextos sociais e econômicos, a série oferece uma ampla reflexão sobre as condições de trabalho, os estigmas enfrentados, as diferentes escolhas de vida e as lutas por direitos e reconhecimento.
Como afirma Kiko Goifman, co-diretor da série, “não se trata apenas de mostrar o que essas mulheres fazem, mas de questionar como a sociedade as vê e de refletir sobre os desafios que elas enfrentam para garantir dignidade e autonomia em suas vidas”. O lançamento no Canal Brasil, com estreia marcada para as 22h, promete ser um marco na representação da prostituição na mídia, trazendo um debate urgente sobre os direitos das trabalhadoras sexuais e a normalização de suas experiências.
A série também oferece uma oportunidade de aprofundamento no tema da marginalização social, explorando não apenas a prostituição, mas também o feminismo, a autonomia e as questões de classe, raça e gênero. Puta Retrato se coloca, assim, como uma produção essencial para compreender melhor a realidade das mulheres que vivem à margem da sociedade, mas que possuem histórias de resistência, transformação e luta por justiça social.
Exibição:
Puta Retrato – Trabalhadoras Sexuais
Estreia: Segunda-feira, 2 de dezembro, às 22h
Canal Brasil
Direção: Claudia Priscilla e Kiko Goifman