“Queridos Estranhos”: Brasileiros Enfrentam Solidão Através de Comunidades de Interesses Compartilhados

Pesquisa revela que 1 em cada 4 brasileiros sente-se solitário, mas microcomunidades trazem conexão e bem-estar

Uma pesquisa conduzida pela KOGA, unidade de estudos da agência DOJO, revela que a solidão é uma realidade crescente para muitos brasileiros. O estudo, intitulado “Queridos Estranhos,” consultou mais de 1.500 pessoas para entender como comunidades de interesse — chamadas “grupos intencionais” — podem mitigar a solidão e trazer felicidade. De acordo com a pesquisa, 1 em cada 4 brasileiros afirma sentir-se sozinho frequentemente, mas, para 85% dos participantes, os grupos intencionais têm contribuído positivamente para o bem-estar.

A pesquisa ocorre em um momento de crescente preocupação mundial com o impacto da solidão. Em novembro de 2023, a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou a solidão uma questão de saúde pública, observando que suas consequências vão além da saúde mental. O Dr. Vivek Murthy, importante autoridade médica nos Estados Unidos, afirmou que sentir-se isolado equivale, em termos de saúde, a fumar 15 cigarros por dia.

“A solidão ainda é amplamente associada ao estar sozinho, mas o verdadeiro problema está na qualidade das nossas conexões”, afirma Georgia Reinés, diretora de pesquisa da KOGA.

Grupos Intencionais: Uma Nova Forma de Conexão Social

Os “grupos intencionais” ganham destaque como forma de atenuar os efeitos da solidão. Essas comunidades de pequeno porte reúnem indivíduos com interesses comuns, promovendo trocas mais significativas e duradouras. A pesquisa revela que 50% dos brasileiros já participam de algum grupo intencional, seja online ou presencial, e relatam um aumento considerável na felicidade e uma sensação de pertencimento.

Ao contrário de grandes comunidades focadas em macrotemas, como esportes ou movimentos sociais, os grupos intencionais são mais restritos, geralmente com cerca de 12 pessoas. Esses grupos proporcionam espaço para trocas profundas e sinceras entre seus membros.

“A ligação que se estabelece em um grupo intencional parte de uma escolha consciente e da vontade de se conectar. Por isso, esses grupos muitas vezes se tornam fonte de apoio, troca e confiança”, observa Reinés.

Os Quatro Papéis dos Grupos Intencionais

A pesquisa “Queridos Estranhos” identificou quatro papéis principais que os grupos intencionais desempenham na vida dos participantes. Esses papéis refletem a diversidade de funções que essas comunidades podem ter, dependendo do propósito e das necessidades de cada membro.

  1. Seta (38,9%) – Grupos que promovem uma visão compartilhada e estimulam ações conjuntas em uma mesma direção.
  2. Lupa (31,8%) – Espaços onde os participantes podem explorar questões pessoais e compartilhar experiências de forma aberta e segura.
  3. Fonte (17,8%) – Comunidades que geram informações e entretenimento sobre temas específicos, promovendo conexões leves e baseadas em interesses comuns.
  4. Escudo (11,5%) – Grupos onde os participantes encontram apoio emocional, se fortalecendo contra pressões sociais e preconceitos.

Esses papéis refletem como a necessidade de conexão pode ser atendida de forma variada e intencional, ajudando os participantes a encontrarem suporte e identidade.

A Influência dos Grupos Intencionais nas Relações Interpessoais

Além de melhorar o bem-estar, a participação em grupos intencionais ensina habilidades que beneficiam os relacionamentos pessoais dos membros. Segundo a pesquisa, 69% dos participantes afirmam que sua experiência nos grupos melhorou seus relacionamentos fora dessas comunidades. Entre os principais aprendizados estão:

  1. Escuta ativa – A capacidade de ouvir sem julgar ou sugerir soluções, apenas com o intuito de compreender o outro.
  2. Cumplicidade – Demonstrar apoio sincero ao outro, valorizando suas histórias e experiências.
  3. Menos cobranças – Aceitar as particularidades do outro sem expectativas irreais.
  4. Imparcialidade – Reduzir julgamentos e preconceitos, promovendo um espaço de aceitação.
  5. Cuidado – Trocas respeitosas, sem críticas desnecessárias ou julgamentos ansiosos.

Essas habilidades são altamente valorizadas e indicam que as interações em grupos intencionais podem refletir-se positivamente em outros aspectos da vida dos membros.

Os Obstáculos para a Participação e Possíveis Soluções

Embora o interesse em grupos intencionais seja alto — 70% dos não-participantes gostariam de fazer parte de um — alguns desafios ainda impedem o engajamento. As três principais barreiras identificadas pela pesquisa são:

  • Acesso: 43% dos entrevistados afirmam não ter encontrado um grupo que combine com seus interesses, enquanto 37% não sabem como encontrar essas comunidades.
  • Vergonha: A exposição diante de desconhecidos é um bloqueio para 29% dos que gostariam de participar.
  • Tempo: A falta de disponibilidade é um obstáculo para 21% dos entrevistados.

Para superar essas barreiras, a pesquisa sugere que as pessoas criem seus próprios grupos, utilizem redes sociais para explorar novos interesses e até participem de grupos com anonimato, disponível em algumas plataformas.

Oportunidades para Marcas e Instituições

Em um cenário onde a demanda por conexões intencionais cresce, as marcas têm a oportunidade de atuar como facilitadoras desses espaços. Segundo o estudo, 70% dos brasileiros que ainda não participam de um grupo intencional estariam dispostos a conhecer uma comunidade proposta por uma marca que compartilhe seus interesses.

“O estudo ‘Queridos Estranhos’ nos mostra o impacto positivo dos ‘estranhos’ em nossa vida. Esses grupos demonstram que, ao sairmos de nossa bolha e nos conectarmos com desconhecidos, ampliamos nossas perspectivas e promovemos bem-estar”, conclui Reinés.

Este estudo não apenas revela um panorama da solidão e das soluções encontradas pelos brasileiros, mas destaca a importância de reinventar as interações sociais em busca de uma vida mais plena e conectada.

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