
Em um cenário global onde a exploração espacial deixou de ser exclusividade de grandes potências e agências governamentais, o Brasil vem conquistando seu espaço através de uma força surpreendente: seus estudantes universitários. Enquanto o país busca fortalecer sua posição no setor aeroespacial internacional, jovens engenheiros e cientistas em formação estão assumindo a linha de frente da inovação, desenvolvendo tecnologias que competem em nível mundial.
Em junho de 2025, o talento brasileiro será representado por estudantes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) na International Rocket Engineering Challenge (IREC), uma das mais prestigiadas competições aeroespaciais do mundo. Este evento, que acontecerá no Texas, Estados Unidos, reunirá as mentes mais brilhantes da engenharia aeroespacial estudantil global, colocando à prova não apenas conhecimentos teóricos, mas a capacidade de projetar, construir e lançar foguetes e cargas úteis funcionais.
Este artigo explora como estas equipes brasileiras estão se preparando para representar o país, os desafios tecnológicos que enfrentam, as parcerias com a indústria que viabilizam seus projetos, e o impacto que estas iniciativas têm no desenvolvimento do setor aeroespacial brasileiro como um todo.
O Desafio Internacional e as Equipes Brasileiras
A International Rocket Engineering Challenge (IREC) representa o ápice das competições estudantis de engenharia aeroespacial, atraindo equipes das mais prestigiadas universidades do mundo. Realizada anualmente nos Estados Unidos, a competição desafia estudantes a projetar, construir e lançar foguetes capazes de atingir altitudes específicas carregando cargas úteis funcionais.
O Grupo de Foguetes do Rio de Janeiro e o Projeto Vulkano
O Grupo de Foguetes do Rio de Janeiro (GFRJ), formado por estudantes da UFRJ, competirá na IREC 2025 com o foguete Vulkano, resultado de anos de pesquisa, desenvolvimento e testes. Este projeto representa a culminação de conhecimentos em aerodinâmica, propulsão, materiais compostos e sistemas eletrônicos embarcados.
O Vulkano não é apenas um foguete experimental, mas uma plataforma de lançamento para aplicações científicas reais. Sua missão principal na competição será transportar e lançar um nanossatélite desenvolvido pela equipe parceira UERJ Sats, demonstrando capacidade de integração entre diferentes sistemas aeroespaciais – uma habilidade crucial no setor espacial contemporâneo.
UERJ Sats e o Desafio dos Nanossatélites
Paralelamente, a equipe UERJ Sats participará da competição Payload Challenge, uma disputa focada especificamente nas cargas úteis transportadas pelos foguetes. O grupo desenvolveu um nanossatélite (ou cubesat) que será lançado pelo foguete Vulkano durante a competição.
Estes nanossatélites representam uma revolução na tecnologia espacial. Com menos de 10 kg, são capazes de realizar missões específicas a custos significativamente menores que satélites convencionais. Como explica Kataryne Ferreira Cunha de Almeida, presidente da UERJ Sats: “Os cubesats democratizam o acesso ao espaço, permitindo que universidades e pequenas empresas desenvolvam tecnologias que antes eram exclusivas de grandes agências espaciais.”
O nanossatélite da UERJ foi projetado para coletar dados atmosféricos e testar tecnologias de comunicação em condições extremas, conhecimentos que podem ser aplicados em futuros projetos espaciais brasileiros.
Tecnologia Nacional em Órbita: Os Desafios da Engenharia Aeroespacial Estudantil
Desenvolver tecnologia aeroespacial no contexto universitário brasileiro apresenta desafios únicos que vão desde limitações orçamentárias até a necessidade de adaptar soluções para utilizar materiais e componentes disponíveis localmente.
Superando Limitações com Inovação
As equipes brasileiras frequentemente precisam desenvolver soluções criativas para compensar a falta de acesso a componentes especializados ou equipamentos de teste de alto custo. Esta necessidade, embora desafiadora, tem resultado em abordagens inovadoras que muitas vezes surpreendem competidores internacionais.
Um exemplo notável é o desenvolvimento de sistemas de orientação e controle que utilizam sensores e processadores comerciais adaptados para suportar as condições extremas do voo espacial. Estas adaptações não apenas reduzem custos, mas também demonstram a viabilidade de tecnologias mais acessíveis para aplicações aeroespaciais.
Materiais e Técnicas para Ambientes Extremos
Os nanossatélites e foguetes desenvolvidos pelas equipes brasileiras precisam resistir a condições extremas, incluindo:
- Variações de temperatura que podem ir de -40°C a mais de 100°C
- Vibrações intensas durante o lançamento
- Radiação solar e cósmica
- Vácuo espacial
- Forças g significativas durante aceleração e desaceleração
Para enfrentar estes desafios, as equipes têm investido em pesquisas sobre materiais compostos, técnicas de isolamento térmico e proteção eletrônica. O nanossatélite da UERJ Sats, por exemplo, utiliza alumínio em sua estrutura principal, combinando leveza e resistência estrutural.
A proteção dos componentes eletrônicos representa um desafio particular, exigindo soluções que garantam funcionamento confiável em condições extremas. Como destaca Kataryne Ferreira: “Optamos pela Fita Isolante Líquida Quimatic por ela oferecer uma fixação superior às fitas convencionais e se adaptar melhor aos pequenos espaçamentos dos circuitos, prevenindo curtos-circuitos.”
Esta solução já foi testada com sucesso durante a Missão Kurumin em 2024, quando o nanossatélite da equipe foi lançado a 26 km de altitude na estratosfera por um balão estratosférico. Após o retorno, os componentes protegidos permaneceram intactos, validando a eficácia da tecnologia em condições reais.
A Ponte Entre Academia e Indústria
O desenvolvimento de tecnologia aeroespacial de ponta por estudantes universitários só se torna possível através de parcerias estratégicas com a indústria. Estas colaborações não apenas fornecem recursos financeiros, mas também conhecimento técnico, materiais especializados e oportunidades de teste em condições reais.
O Papel da Quimatic no Desenvolvimento Aeroespacial Estudantil
A Quimatic, fabricante brasileira de especialidades químicas, exemplifica como a indústria nacional pode contribuir para o avanço da tecnologia aeroespacial através do apoio a iniciativas estudantis. A empresa fornece tanto suporte financeiro quanto soluções químicas especializadas para a equipe UERJ Sats.
Walter Strebinger, presidente da Quimatic, destaca a importância deste tipo de parceria: “Acreditamos no poder transformador da ciência e da educação. Por isso, consideramos fundamental incentivar as novas gerações de cientistas e engenheiros, apoiando projetos que impulsionam o desenvolvimento tecnológico e beneficiam a sociedade.”
Entre as contribuições técnicas da empresa estão:
- Fluidos de corte especializados: Utilizados nas operações de usinagem do alumínio que compõe a estrutura do nanossatélite, garantindo precisão dimensional e acabamento superficial adequado.
- Fita Isolante Líquida: Aplicada na proteção de circuitos eletrônicos em PCBs (placas de circuito impresso), oferecendo isolamento elétrico superior e resistência a condições extremas.
Esta parceria, agora em seu segundo ano consecutivo, demonstra como a colaboração entre academia e indústria pode acelerar o desenvolvimento tecnológico e criar um ciclo virtuoso de inovação.
Mobilização de Recursos e Apoio Comunitário
Além de parcerias corporativas, as equipes brasileiras têm buscado apoio comunitário para viabilizar sua participação em competições internacionais. Os custos associados a estas iniciativas vão muito além do desenvolvimento tecnológico, incluindo:
- Transporte internacional de equipamentos e equipe
- Hospedagem durante a competição
- Alimentação
- Equipamentos técnicos específicos para a competição
- Taxas de inscrição e participação
Para cobrir estes custos, os estudantes criaram uma campanha de financiamento coletivo através da plataforma Vakinha, buscando mobilizar não apenas recursos financeiros, mas também conscientizar a sociedade sobre a importância destas iniciativas para o desenvolvimento científico e tecnológico do país.
Esta abordagem de múltiplas fontes de financiamento – combinando apoio corporativo, institucional e comunitário – tem se mostrado essencial para viabilizar a participação brasileira em eventos internacionais de alto nível.
O Valor da Experiência Internacional para o Setor Aeroespacial Brasileiro
A participação de estudantes brasileiros em competições internacionais como a IREC transcende o valor educacional imediato, gerando impactos significativos e duradouros para o setor aeroespacial nacional como um todo.
Formação de Capital Humano Especializado
Um dos benefícios mais evidentes destas iniciativas é a formação de profissionais altamente qualificados com experiência prática em projetos aeroespaciais. Estudantes que participam destas competições desenvolvem não apenas conhecimentos técnicos avançados, mas também habilidades cruciais como:
- Gestão de projetos complexos com múltiplas variáveis e restrições
- Trabalho em equipes multidisciplinares
- Resolução criativa de problemas com recursos limitados
- Comunicação técnica internacional
- Capacidade de atender a requisitos rigorosos de segurança e desempenho
Estes profissionais representam um ativo estratégico para o Brasil, podendo atuar tanto em instituições nacionais como a Agência Espacial Brasileira (AEB) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), quanto em empresas privadas do setor aeroespacial, ou mesmo fundar startups inovadoras na área.
Desenvolvimento de Tecnologias com Aplicações Além do Espaço
As tecnologias desenvolvidas para aplicações aeroespaciais frequentemente encontram usos em outros setores da economia, gerando um efeito multiplicador de inovação. Exemplos incluem:
- Materiais leves e resistentes desenvolvidos para foguetes que podem ser aplicados na indústria automotiva e de construção civil
- Sistemas de comunicação de baixo consumo energético para nanossatélites que podem ser adaptados para IoT (Internet das Coisas)
- Algoritmos de controle e navegação que podem ser utilizados em drones e veículos autônomos
- Soluções de isolamento térmico e elétrico que encontram aplicações em eletrônica de consumo e industrial
Esta transferência de tecnologia do setor aeroespacial para outras indústrias representa um retorno significativo sobre o investimento em pesquisa e desenvolvimento, amplificando o impacto econômico destas iniciativas.
Posicionamento Internacional do Brasil no Setor Espacial
A presença brasileira em competições internacionais de prestígio como a IREC contribui para o posicionamento do país como um participante relevante no cenário aeroespacial global. Este reconhecimento facilita:
- Estabelecimento de parcerias internacionais para projetos futuros
- Atração de investimentos para o setor aeroespacial brasileiro
- Participação em programas colaborativos internacionais
- Acesso a tecnologias e conhecimentos avançados através de intercâmbios e cooperações
Em um momento em que o setor espacial passa por uma transformação significativa, com a crescente participação de atores privados e a democratização do acesso ao espaço, este posicionamento estratégico do Brasil pode abrir portas para oportunidades significativas de desenvolvimento tecnológico e econômico.
Perspectiva Comparativa: Brasil no Contexto Global de Competições Aeroespaciais Estudantis
Para compreender plenamente o significado da participação brasileira na IREC 2025, é importante contextualizar esta iniciativa no cenário global de competições aeroespaciais estudantis e analisar como o Brasil se compara a outros países em desenvolvimento e potências espaciais estabelecidas.
O Cenário Global de Competições Aeroespaciais Universitárias
As competições aeroespaciais estudantis tornaram-se um fenômeno global, com eventos significativos ocorrendo em diversos países:
- Estados Unidos: Além da IREC, o país sedia a NASA Student Launch e diversas competições organizadas por associações profissionais como AIAA (American Institute of Aeronautics and Astronautics)
- Europa: A European Space Agency (ESA) promove o CanSat Competition e o European Rocketry Challenge
- Ásia: Japão e China têm competições nacionais significativas, com crescente participação internacional
- América Latina: O LASC (Latin America Space Challenge), realizado no Brasil, tem ganhado proeminência como principal competição regional
Estas competições variam em escopo e complexidade, desde o lançamento de pequenos foguetes experimentais até o desenvolvimento de nanossatélites funcionais com missões científicas específicas.
Brasil vs. Outros Países em Desenvolvimento
Quando comparado a outros países em desenvolvimento com ambições espaciais, o Brasil apresenta características distintivas:
Pontos Fortes:
- Tradição acadêmica sólida em engenharia aeroespacial
- Infraestrutura de testes relativamente desenvolvida, incluindo o Centro de Lançamento de Alcântara
- Experiência institucional através do INPE e AEB
- Indústria aeronáutica estabelecida (Embraer) que fornece base tecnológica e de conhecimento
Desafios:
- Financiamento inconsistente para projetos espaciais
- Dificuldades de acesso a componentes específicos devido a restrições de importação
- Menor integração entre academia, indústria e agências governamentais quando comparado a países como Índia e China
Apesar destes desafios, equipes brasileiras têm conseguido resultados notáveis em competições internacionais, frequentemente superando equipes de países com programas espaciais mais estabelecidos.
Tendências e Oportunidades Futuras
A análise do cenário global revela tendências importantes que podem beneficiar o Brasil:
- Miniaturização e Democratização: A tendência de miniaturização de satélites e redução de custos de acesso ao espaço favorece países com recursos limitados mas forte base acadêmica, como o Brasil
- Colaborações Internacionais: Crescente interesse em parcerias internacionais para missões espaciais abre oportunidades para participação brasileira
- Aplicações Regionais: Nanossatélites desenvolvidos por estudantes podem abordar desafios específicos da América Latina, como monitoramento ambiental da Amazônia ou comunicações em áreas remotas
Estas tendências sugerem que o investimento em iniciativas estudantis como as equipes que participarão da IREC 2025 pode gerar retornos significativos para o programa espacial brasileiro a médio e longo prazo.
Perguntas Frequentes Sobre Competições Aeroespaciais Estudantis
Como funcionam os nanossatélites desenvolvidos por estudantes e quais suas aplicações práticas?
Os nanossatélites, também conhecidos como cubesats, são pequenos satélites artificiais com massa inferior a 10 kg, geralmente construídos em formato cúbico com dimensões padronizadas (unidades de 10x10x10 cm). Apesar do tamanho reduzido, estes dispositivos são satélites completamente funcionais, equipados com sistemas de energia (painéis solares), comunicação, controle de atitude, computador de bordo e cargas úteis específicas para suas missões. Os nanossatélites desenvolvidos por estudantes brasileiros, como o da equipe UERJ Sats, geralmente utilizam componentes comerciais adaptados para o ambiente espacial (abordagem conhecida como COTS – Commercial Off-The-Shelf), reduzindo custos e prazos de desenvolvimento. As aplicações práticas destes dispositivos são surpreendentemente diversas: monitoramento ambiental (desmatamento, queimadas, recursos hídricos), coleta de dados meteorológicos, experimentos científicos em microgravidade, testes de novas tecnologias espaciais, comunicações em áreas remotas, e até mesmo educação, permitindo que estudantes de ensino médio e fundamental interajam com um satélite real em órbita. O nanossatélite da UERJ Sats que participará da IREC 2025 foi projetado para coletar dados atmosféricos e testar sistemas de comunicação em condições extremas, conhecimentos que podem ser aplicados em futuros projetos espaciais brasileiros com aplicações práticas nas áreas de meteorologia e telecomunicações.
Quais são os principais desafios técnicos enfrentados pelas equipes brasileiras nestas competições?
As equipes brasileiras enfrentam desafios técnicos significativos que vão além daqueles inerentes à engenharia aeroespacial. O primeiro grande obstáculo é o acesso limitado a componentes especializados para aplicações espaciais, frequentemente sujeitos a restrições de exportação por países desenvolvidos ou com custos proibitivos devido a taxas de importação. Isso força as equipes a desenvolverem alternativas locais ou adaptar componentes comerciais para uso espacial, exigindo extensos testes de validação. Outro desafio importante é a infraestrutura de testes: enquanto equipes de universidades americanas ou europeias frequentemente têm acesso a câmaras de vácuo, túneis de vento e equipamentos de vibração em suas instituições, equipes brasileiras muitas vezes precisam desenvolver seus próprios aparatos de teste ou estabelecer parcerias com institutos de pesquisa para acessar equipamentos adequados. A fabricação de componentes estruturais e mecânicos de precisão também representa um desafio, com acesso limitado a tecnologias avançadas como impressão 3D em metais ou usinagem CNC de alta precisão. Por fim, há desafios logísticos significativos: transportar um foguete experimental ou nanossatélite para competições internacionais envolve complexos processos alfandegários, documentação técnica detalhada e cuidados especiais para evitar danos durante o transporte. Apesar destas dificuldades, as equipes brasileiras têm demonstrado notável capacidade de inovação, frequentemente desenvolvendo soluções criativas que compensam as limitações de recursos com engenhosidade e adaptabilidade.
Como os estudantes financiam estes projetos e qual o custo típico de desenvolvimento?
O financiamento de projetos aeroespaciais estudantis no Brasil geralmente combina múltiplas fontes em uma estratégia diversificada. As equipes buscam apoio institucional de suas universidades, que podem fornecer espaço físico, acesso a laboratórios e, em alguns casos, recursos financeiros limitados através de programas de extensão ou iniciação científica. Parcerias com empresas privadas, como a estabelecida entre a UERJ Sats e a Quimatic, representam outra fonte crucial de recursos, oferecendo tanto apoio financeiro quanto acesso a materiais, componentes e conhecimento técnico especializado. Agências de fomento governamentais como CNPq, CAPES e fundações estaduais de amparo à pesquisa ocasionalmente oferecem editais específicos para projetos estudantis inovadores. Para cobrir lacunas de financiamento, especialmente para participação em competições internacionais, as equipes recorrem a campanhas de financiamento coletivo, como a vaquinha virtual criada para viabilizar a participação na IREC 2025. Quanto aos custos, o desenvolvimento de um foguete experimental como o Vulkano pode variar entre R$ 50.000 e R$ 150.000, dependendo da complexidade e materiais utilizados. Já um nanossatélite estudantil típico tem custo de desenvolvimento entre R$ 30.000 e R$ 100.000. A participação em competições internacionais adiciona aproximadamente R$ 80.000 a R$ 120.000 em despesas, incluindo transporte de equipamentos e equipe, hospedagem, alimentação e taxas de inscrição. Estes valores, embora significativos no contexto universitário brasileiro, são ordens de magnitude menores que os custos de projetos aeroespaciais profissionais, demonstrando o extraordinário valor gerado pelo trabalho e dedicação dos estudantes.
Quais oportunidades de carreira existem para estudantes que participam destas competições?
Estudantes que participam de competições aeroespaciais desenvolvem um conjunto de habilidades e experiências altamente valorizadas pelo mercado, abrindo diversas oportunidades de carreira. No setor aeroespacial brasileiro, instituições como o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), a Agência Espacial Brasileira (AEB) e empresas como Embraer e Avibras frequentemente recrutam profissionais com experiência prática em projetos espaciais. O crescente setor de startups espaciais brasileiras, como a Airvantis, Visiona Tecnologia Espacial e CRON Systems, também representa um caminho promissor, oferecendo oportunidades para aplicar conhecimentos em ambientes dinâmicos e inovadores. Internacionalmente, ex-participantes de equipes brasileiras têm conseguido posições em empresas como SpaceX, Blue Origin, Airbus Defence and Space e agências como NASA e ESA, demonstrando que a experiência adquirida nestas competições é reconhecida globalmente. Além das carreiras diretamente ligadas ao setor espacial, as habilidades desenvolvidas são transferíveis para indústrias como automotiva (especialmente veículos elétricos e autônomos), eletrônica avançada, energias renováveis, defesa e consultoria tecnológica. A experiência em gestão de projetos complexos também prepara os estudantes para funções de liderança técnica e empreendedorismo. Dados informais sugerem que mais de 80% dos estudantes que participam ativamente destas competições por pelo menos dois anos conseguem colocação profissional em suas áreas de interesse dentro de seis meses após a formatura, com salários iniciais tipicamente 30-40% acima da média para recém-formados em engenharia.
Como o Brasil se compara a outros países em desenvolvimento no setor aeroespacial estudantil?
O Brasil ocupa uma posição intermediária quando comparado a outros países em desenvolvimento no setor aeroespacial estudantil, com pontos fortes distintos e desafios específicos. Em comparação com países como Índia e China, que possuem programas espaciais governamentais robustos e bem financiados, o Brasil apresenta menor integração entre iniciativas estudantis e projetos espaciais nacionais, resultando em menos oportunidades de aplicação prática das tecnologias desenvolvidas. Por outro lado, quando comparado a outros países latino-americanos e africanos, o Brasil se destaca pela quantidade e qualidade de suas equipes universitárias, com presença consistente em competições internacionais. Um diferencial positivo do Brasil é a diversidade de iniciativas: além de foguetes e nanossatélites, equipes brasileiras desenvolvem balões estratosféricos, rovers, habitats espaciais simulados e experimentos de microgravidade. Esta abordagem multidisciplinar contrasta com países como México e África do Sul, que tendem a focar em áreas mais específicas. Em termos de resultados competitivos, equipes brasileiras frequentemente superam representantes de países com PIB per capita similar ou superior, demonstrando eficiência no uso de recursos limitados. Um indicador relevante é o número de publicações científicas resultantes de projetos estudantis: o Brasil produziu mais artigos em conferências internacionais sobre pequenos satélites nos últimos cinco anos que todos os outros países sul-americanos combinados. Estes dados sugerem que, apesar dos desafios de financiamento e infraestrutura, o Brasil construiu um ecossistema aeroespacial estudantil resiliente e criativo, capaz de competir internacionalmente e contribuir para o desenvolvimento científico e tecnológico do país.
O Futuro da Engenharia Aeroespacial Brasileira Através da Educação
A participação de estudantes brasileiros na International Rocket Engineering Challenge 2025 representa muito mais que uma competição acadêmica – é um símbolo do potencial do Brasil para se estabelecer como um ator relevante no cenário aeroespacial global através do investimento em educação e desenvolvimento de talentos.
Síntese dos Avanços e Conquistas
As equipes da UFRJ e UERJ que representarão o Brasil na IREC 2025 exemplificam como a combinação de educação de qualidade, parcerias estratégicas e determinação pode superar limitações de recursos e infraestrutura:
- Desenvolvimento de tecnologias avançadas como o foguete Vulkano e nanossatélites funcionais
- Estabelecimento de parcerias produtivas entre academia e indústria, como demonstrado pela colaboração com a Quimatic
- Validação de tecnologias em condições reais, como na Missão Kurumin de 2024
- Mobilização de recursos através de múltiplos canais, incluindo apoio institucional, corporativo e comunitário
Estas conquistas demonstram que o Brasil possui os ingredientes essenciais para desenvolver um setor aeroespacial vibrante e inovador, começando pela formação de capital humano altamente qualificado.
Impacto Educacional e Inspiracional
Além dos avanços técnicos, iniciativas como estas têm um profundo impacto educacional e inspiracional:
Aprendizado Prático: Estudantes envolvidos nestes projetos desenvolvem habilidades que vão muito além do currículo tradicional, aplicando conhecimentos teóricos em desafios práticos complexos.
Efeito Multiplicador: O sucesso destas equipes inspira novos estudantes a seguirem carreiras em STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática), criando um ciclo virtuoso de desenvolvimento de talentos.
Visibilidade Internacional: A presença brasileira em competições de prestígio como a IREC demonstra a qualidade da educação em engenharia no país, potencialmente atraindo colaborações acadêmicas e oportunidades de intercâmbio.
Quebra de Paradigmas: Estas iniciativas desafiam a percepção de que tecnologias avançadas como engenharia aeroespacial estão fora do alcance de países em desenvolvimento.
Perspectivas para o Futuro
Olhando adiante, o investimento em iniciativas aeroespaciais estudantis apresenta um caminho promissor para o desenvolvimento tecnológico brasileiro:
Formação de Ecossistema de Inovação: Estudantes que participam destas competições frequentemente seguem carreiras em pesquisa avançada ou fundam startups de base tecnológica, contribuindo para um ecossistema de inovação mais robusto.
Desenvolvimento de Tecnologias Proprietárias: A experiência adquirida nestas competições pode levar ao desenvolvimento de tecnologias espaciais proprietárias brasileiras, reduzindo a dependência de soluções importadas.
Aplicações para Desafios Nacionais: As tecnologias desenvolvidas podem ser adaptadas para abordar desafios específicos do Brasil, como monitoramento ambiental da Amazônia, agricultura de precisão e comunicações em áreas remotas.
Posicionamento Estratégico: Em um momento de transformação do setor espacial global, com crescente participação de atores privados e redução de custos de acesso ao espaço, o Brasil tem a oportunidade de se posicionar estrategicamente em nichos específicos.
Como destacou Walter Strebinger, presidente da Quimatic: “Acreditamos no poder transformador da ciência e da educação. Por isso, consideramos fundamental incentivar as novas gerações de cientistas e engenheiros, apoiando projetos que impulsionam o desenvolvimento tecnológico e beneficiam a sociedade.”
Esta visão captura a essência do que está em jogo: muito além de uma competição estudantil, a participação brasileira na IREC 2025 representa um investimento no futuro tecnológico do país e na capacidade da próxima geração de engenheiros e cientistas brasileiros de enfrentar desafios complexos com criatividade, conhecimento e determinação.
O sucesso destas equipes na competição será importante, mas o verdadeiro triunfo já está assegurado: a formação de profissionais capazes de elevar o Brasil a novos patamares de desenvolvimento tecnológico e inovação.
Apoie o futuro da engenharia aeroespacial brasileira contribuindo com a vaquinha virtual das equipes GFRJ e UERJ Sats para viabilizar sua participação na IREC 2025: https://www.vakinha.com.br/vaquinha/grupo-de-foguetes-da-uerj-precisa-da-sua-ajuda-para-representar-o-brasil-no-eua