Multas por Excesso de Velocidade Crescem 134% no Primeiro Semestre de 2024

A Ilusão da Queda nas Infrações: O Que Realmente Está Acontecendo?

É comum que, ao ver uma queda no número de infrações de trânsito, as pessoas pensem automaticamente em uma melhora no comportamento dos motoristas. Afinal, menos infrações deveriam significar mais cuidado, mais atenção e, consequentemente, mais segurança nas estradas, certo? Mas, a realidade nem sempre é tão simples. No primeiro semestre de 2024, um levantamento da Associação Mineira de Medicina do Tráfego (Ammetra), baseado em dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF), revelou uma queda de 37,2% no número total de infrações nas rodovias federais brasileiras. No entanto, antes de celebrarmos, é importante analisar o contexto mais amplo dessa estatística.

De janeiro a junho de 2023, foram registradas 3.911.780 infrações de trânsito nas rodovias federais. No mesmo período de 2024, esse número caiu para 2.456.752. À primeira vista, parece uma boa notícia, certo? Infelizmente, essa redução no número de infrações não se traduziu em menos mortes ou feridos nas estradas. Pelo contrário, os números mostram um aumento de 9% no número de mortos, totalizando 2.908 vidas perdidas, e um crescimento de 8% no número de feridos, que atingiu 40.518 pessoas.

Esse aparente paradoxo nos leva a refletir: por que menos infrações não significam mais segurança? O médico especialista em Tráfego e diretor científico da Ammetra, Alysson Coimbra, aponta para um possível enfraquecimento na fiscalização. “O problema é que essa queda não causou uma redução no número de mortos e sinistros. Em 2024, houve um aumento de 9% no número de mortos e de 8% no número de feridos”, comenta Coimbra.

Fiscalização: Um Elo Perdido na Segurança Viária

A fiscalização desempenha um papel crucial na manutenção da ordem e segurança nas estradas. Quando falamos de trânsito, é ela que garante que as leis sejam cumpridas, e quando há uma redução na fiscalização, a consequência pode ser desastrosa. A análise das infrações de 2024 revela um cenário preocupante: os motoristas continuam demonstrando altos níveis de imprudência e agressividade. Entre os comportamentos mais críticos estão a velocidade excessiva e o não uso do cinto de segurança, problemas persistentes que continuam a colocar em risco a vida de todos que transitam nas rodovias federais.

A estatística mais alarmante talvez seja o aumento de 134% nas infrações por excesso de velocidade em relação ao mesmo período do ano anterior. Para se ter uma ideia, o excesso de velocidade responde por 97% do total de infrações cometidas em 2024. “A velocidade excessiva é um fator determinante em muitos sinistros graves e fatais. A redução no número total de infrações não deve mascarar o fato de que os motoristas continuam dirigindo de maneira perigosa”, alerta Coimbra. E ele tem razão. A velocidade é um dos principais fatores que determinam a gravidade de um acidente de trânsito. Quando um veículo está em alta velocidade, o tempo de reação do motorista diminui, a eficácia dos freios é reduzida, e as chances de sobrevivência em um impacto diminuem drasticamente.

Regressão nos Hábitos: O Que Está Acontecendo com os Motoristas?

Se você me perguntasse alguns anos atrás, eu diria que o uso do cinto de segurança já estava consolidado na cultura do motorista brasileiro. Era algo tão automático quanto ligar o carro ou ajustar os espelhos. No entanto, os dados do primeiro semestre de 2024 me fazem repensar essa percepção. Houve um aumento de 39% nas infrações por não usar o cinto de segurança, tornando essa a quinta infração mais frequente cometida pelos motoristas brasileiros.

Essa estatística é, no mínimo, preocupante. O cinto de segurança é um dispositivo simples, barato e eficaz na prevenção de lesões graves e mortes em acidentes de trânsito. A falta de seu uso indica uma falha grave na conscientização dos motoristas. “O aumento dessas infrações é preocupante, pois indica uma falta de conscientização sobre a importância do cinto de segurança, uma informação que acreditávamos que já estava fixada na vida dos brasileiros, porém os números revelam o contrário. Isso coloca em risco a vida dos motoristas e passageiros”, destaca Coimbra.

O Que Pode Ser Feito? Uma Abordagem Multifatorial

Diante desse cenário, é fácil se sentir desanimado, mas acredito que ainda há esperança. Melhorar a segurança nas estradas brasileiras não é uma tarefa impossível, mas requer uma abordagem multifatorial que envolva educação, fiscalização, leis mais rigorosas e políticas públicas eficazes.

Educação: A educação no trânsito precisa ser contínua e abrangente. Não podemos nos dar ao luxo de pensar que as pessoas sabem o que fazer e simplesmente deixam de fazer por escolha. É preciso reforçar, constantemente, a importância de comportamentos seguros e mostrar as consequências reais e trágicas da imprudência.

Fiscalização: A presença de fiscalização nas estradas precisa ser reforçada. Não adianta termos leis rígidas se elas não são cumpridas. A tecnologia pode ser uma aliada nesse sentido, com a utilização de radares inteligentes, câmeras e outros dispositivos que ajudem a monitorar o comportamento dos motoristas.

Leis Mais Rigorosas: Precisamos de leis que não apenas punam, mas que também inibam a prática de infrações. Multas pesadas, suspensão da carteira de motorista e até a prisão em casos de reincidência ou infrações graves são medidas que devem ser consideradas.

Políticas Públicas Eficazes: As políticas públicas precisam ser focadas na prevenção de acidentes e na proteção da vida. Isso inclui desde a construção de estradas mais seguras até campanhas de conscientização que realmente atinjam a população de maneira eficaz.

Ranking das Principais Infrações: Um Reflexo do Comportamento nas Estradas

Agora, vou compartilhar com você o ranking das 10 principais infrações cometidas de janeiro a junho de 2024, segundo a PRF. Esses números nos dão um panorama claro de onde estão os maiores desafios no trânsito brasileiro:

  1. Transitar em velocidade superior à máxima permitida em até 20%: 2.060.579 infrações
  2. Transitar em velocidade superior à máxima permitida em mais de 20% até 50%: 340.857 infrações
  3. Ultrapassar pela contramão linha de divisão de fluxos opostos, contínua amarela: 120.005 infrações
  4. Conduzir o veículo registrado que não esteja devidamente licenciado: 94.549 infrações
  5. Deixar o condutor de usar o cinto de segurança: 77.795 infrações
  6. Conduzir o veículo em mau estado de conservação, comprometendo a segurança: 73.085 infrações
  7. Desobedecer às ordens emanadas da autoridade competente de trânsito ou de seus agentes: 65.939 infrações
  8. Conduzir o veículo com equipamento do sistema de iluminação e de sinalização alterados: 64.905 infrações
  9. Conduzir o veículo com equipamento obrigatório em desacordo com o estabelecido pelo Contran: 60.833 infrações
  10. Dirigir veículo sem possuir CNH: 57.570 infrações

Esses números são alarmantes, mas não surpreendentes. Eles refletem um comportamento que, infelizmente, ainda é muito comum nas estradas brasileiras. A velocidade excessiva lidera o ranking, seguida por infrações que demonstram um desrespeito às regras básicas de segurança, como o uso do cinto e a manutenção adequada do veículo.

Comparativo de Infrações: Uma Queda Enganosa

Por fim, vamos analisar o comparativo da quantidade de infrações registradas nas rodovias federais nos primeiros semestres de 2023 e 2024:

  • Janeiro a junho de 2023: 3.911.780 infrações de trânsito
  • Janeiro a junho de 2024: 2.456.752 infrações de trânsito

Esses números, por si só, não contam toda a história. A redução de 37,2% nas infrações poderia ser vista como um avanço, mas quando analisamos o aumento nas mortes e nos feridos, fica claro que o problema não é a quantidade de infrações, mas a gravidade delas e a falta de fiscalização adequada.

Conclusão: O Caminho para Estradas Mais Seguras

É inegável que o trânsito nas rodovias brasileiras ainda apresenta grandes desafios. Os dados mostram que, apesar da redução no número total de infrações, a imprudência e a falta de conscientização dos motoristas continuam sendo grandes vilões nas nossas estradas. O aumento expressivo das multas por excesso de velocidade e a preocupante alta nas infrações por não uso do cinto de segurança são indicadores claros de que ainda há muito trabalho a ser feito.

Mas eu acredito que com uma combinação de educação, fiscalização rigorosa, leis mais rígidas e políticas públicas eficazes, podemos reverter esse cenário. A segurança no trânsito é uma responsabilidade compartilhada. Cada um de nós, ao tomar o volante, carrega a responsabilidade não só pela nossa vida, mas pela vida de todos ao nosso redor. Vamos fazer a nossa parte para que as estradas brasileiras sejam, de fato, um lugar seguro para todos.

Este artigo foi escrito por Rafael Ramos. Para mais informações sobre segurança no trânsito e outros temas relevantes, acesse www.mastermaverick.com.br.

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