Um Olhar Sobre as Infecções Hospitalares e o Papel dos Facilities Managers
É alarmante pensar que mais de 45 mil brasileiros perdem a vida anualmente devido a infecções adquiridas em hospitais. Essa realidade é um reflexo de um problema sistêmico que, se não for abordado de forma eficaz, continua a impactar profundamente a saúde pública e a qualidade do atendimento. Como o CDC (Centros de Prevenção e Controle de Doenças dos Estados Unidos) destaca, essas infecções representam um custo anual de até 10 bilhões de dólares em despesas com saúde.
Marcelo Boeger, consultor na Hospitalidade Consultoria e diretor dos Comitês da ABRAFAC (Associação Brasileira de Property, Workplace e Facility Management), não poupa palavras ao comentar sobre o impacto devastador dessas estatísticas: “Temos que atuar de forma incansável, os pacientes que adquirem infecções hospitalares ficam, em média, 6,5 dias adicionais no hospital, têm cinco vezes mais chances de serem reinternados após a alta e apresentam o dobro de probabilidade de morrer.”
Esta perspectiva lança luz sobre um aspecto fundamental da gestão hospitalar: a importância da prevenção e do controle das infecções. No cenário hospitalar, a atuação dos facilities managers e das equipes multiprofissionais é crucial. Eles são responsáveis não apenas pela manutenção das instalações, mas também pela criação de um ambiente que minimize o risco de infecção.
A Influência dos Facilities Managers na Prevenção de Infecções
Os facilities managers desempenham um papel essencial na prevenção de infecções hospitalares, uma tarefa que vai além da simples manutenção das estruturas físicas. Estes profissionais estão envolvidos em diversas áreas críticas, desde a higiene e desinfecção de superfícies até o manejo adequado de alimentos e a qualidade do ar ambiente.
A infraestrutura hospitalar é complexa e exige atenção detalhada. Processos críticos, como o transporte vertical de materiais contaminados por elevadores ou monta-cargas, precisam ser geridos com cuidado para evitar a contaminação cruzada. Por exemplo, é crucial evitar o transporte simultâneo de pacientes e materiais contaminados, mesmo que os pacientes estejam ensacados e acondicionados em carros fechados. A falta de manutenção preventiva em sistemas como ar-condicionado, ralos e abastecimento de água também representa riscos significativos.
Na área de alimentação, a importância de práticas rigorosas de higiene não pode ser subestimada. Desde os cozinheiros até as copeiras que distribuem alimentos diretamente aos pacientes, todos devem seguir protocolos de higiene para garantir que os alimentos sejam manipulados e armazenados de forma segura. É necessário garantir que as embalagens sejam higienizadas antes do uso e que os ingredientes sejam refrigerados e armazenados de acordo com suas necessidades específicas.
Desafios e Oportunidades para os Gestores de Facilities
Marcelo Boeger aponta que a manutenção das estruturas físicas dos hospitais afeta significativamente a qualidade dos serviços. “Em grande parte, a manutenção das estruturas físicas afeta os serviços de forma abrangente. No entanto, a falta de processos para garantia de qualidade dos serviços também deve ser considerada”, alerta Marcelo.
Recentemente, a ABRAFAC, em colaboração com a ONA (Organização Nacional de Acreditação), realizou uma pesquisa abrangente sobre o impacto do Facility Management nas certificações de instituições de saúde. O estudo completo pode ser acessado aqui.
Os resultados revelam que 76% dos gestores hospitalares consideram que a manutenção predial e a infraestrutura ainda são grandes desafios, oferecendo muitas oportunidades para melhorias. Notavelmente, há uma necessidade significativa de aprimorar a documentação de processos e procedimentos, especialmente nas áreas de Higiene Predial, Gerenciamento de Resíduos Sólidos, Rouparia e Lavanderia.
O Impacto dos Desperdícios e a Necessidade de Estrutura
Um dos maiores desafios enfrentados pelos gestores de facilities é a questão dos desperdícios. A falta de uma estrutura organizada pode resultar em desperdícios significativos, como leitos indisponíveis devido a uma gestão deficiente de interdição e manutenção, equipamentos parados que prejudicam a produtividade e afetam o fluxo de pacientes, e retrabalho causado por técnicas inadequadas.
Marcelo Boeger explica que um dos maiores desperdícios ocorre no tempo perdido durante a movimentação de pacientes devido a falhas no sistema de transporte entre unidades. “Por exemplo, quando o mesmo maqueiro que faz o transporte no pronto-socorro também é responsável por transferir pacientes da UTI para outras unidades, qualquer atraso na organização dessas atividades pode resultar em pacientes represados e desperdícios em várias partes do sistema de saúde”, afirma Boeger.
O absenteísmo também representa um tipo significativo de desperdício. Uma pesquisa recente apresentada pela doutora Elizabeth Reis (IQG) no Congresso de Hotelaria e Facilities da Feira Hospitalar revelou que a perda de produtividade devido ao absenteísmo nessa área chega a quase 17%, o que representa desperdícios sistêmicos significativos para toda a instituição.
A Creditação e sua Influência nos Custos e Desperdícios
A acreditação é um fator crucial na redução de custos e desperdícios de tempo nas instituições de saúde. A variabilidade na execução das tarefas, sem padronização adequada, aumenta a pressão na entrega dos serviços e pode causar confusão entre equipes e clientes. Muitas vezes, os resultados dependem das habilidades individuais dos executores, e não de um plano de trabalho estruturado.
Marcelo Boeger destaca que, quando os serviços de hotelaria e facilities são integrados de forma eficiente ao fluxo de trabalho da unidade, é possível alcançar melhorias significativas. “Podemos observar melhorias de 30% a 40%. O tempo entre a saída de um paciente e a entrada de outro no mesmo leito pode variar de menos de duas horas a mais de seis horas, dependendo da eficiência dos processos dentro do desenho de serviços”, afirma Boeger.
Infelizmente, muitos hospitais ainda não possuem acreditação, e vários obstáculos impedem a obtenção desse reconhecimento. A pesquisa revela que 53% dos gestores das instituições não possuem acreditação. Entre os obstáculos citados, 44% mencionam o custo elevado, 26% a falta de infraestrutura adequada, 24% o desinteresse da instituição e 19% a falta de uma equipe capacitada ou o desconhecimento da existência de certificações específicas para a área.
Gilvane Lolato, gerente de Operações da ONA, observa que muitas organizações não conseguem atender às legislações básicas e obrigatórias. “Há problemas graves de estrutura física que impactam na segurança do paciente, como Unidades de Terapia Intensiva com dimensionamento inadequado de leitos, Centros Cirúrgicos com áreas físicas inadequadas, Centrais de Material Esterilizado sem separação adequada entre área suja e limpa, e equipamentos sem condições de calibração e manutenção”, afirma Lolato. Esses problemas são levados em consideração durante o processo de acreditação. Gilvane enfatiza que, quando a metodologia da ONA é aplicada e avalia o atendimento aos padrões, fica evidente que a acreditação pode parecer cara devido a esses problemas estruturais e de conformidade.
Sobre a ONA e a ABRAFAC
Sobre a ONA: A Organização Nacional de Acreditação (ONA) certifica a qualidade de serviços de saúde no Brasil, com foco principal na segurança do paciente. Sua metodologia de avaliação atende a padrões internacionais de qualidade e segurança. O Manual de Acreditação ONA é reconhecido pela ISQua (Sociedade Internacional pela Qualidade no Cuidado à Saúde), instituição parceira da Organização Mundial da Saúde (OMS). Mais informações podem ser encontradas em www.ona.org.br.
Sobre a ABRAFAC: A ABRAFAC (Associação Brasileira de Property, Workplace e Facility Management) é uma referência brasileira no setor. Fundada em 2004, promove o networking entre profissionais, empresas e agentes públicos, desenvolvendo o mercado de Facility Management. Através de eventos como o Congresso ABRAFAC, Expo FM, Prêmio Melhores do Ano, debates, Comitês Técnicos, publicações e a Certificação Profissional C.11FM ABRAFAC, a associação desempenha um papel crucial na capacitação continuada de profissionais e na adoção das melhores práticas alinhadas às normas NBR ISO 41.000. Saiba mais em www.abrafac.org.br.
Este cenário de desafios e oportunidades destaca a importância crítica do papel dos facilities managers na prevenção de infecções hospitalares e na melhoria contínua dos serviços hospitalares. A atuação efetiva nessa área não apenas melhora a segurança dos pacientes, mas também contribui para a eficiência operacional e a redução de custos nas instituições de saúde.