Ser mãe é uma das experiências mais transformadoras da vida de uma mulher, e essa transformação vem acompanhada de uma série de mudanças, tanto pessoais quanto profissionais. Quando chega o momento de retornar ao trabalho após a licença-maternidade, o que antes parecia ser uma rotina familiar pode se transformar em uma montanha-russa de emoções. Não é apenas sobre voltar ao escritório, mas sim sobre equilibrar o desejo de se reconectar com a carreira e o sentimento de culpa por deixar o bebê em casa.
Eu sempre achei fascinante como cada mãe vive esse processo de uma maneira única, e, ao mesmo tempo, muitas se encontram com as mesmas dúvidas e dilemas. E se eu estiver falhando como mãe? Como vou lidar com as demandas do trabalho enquanto ainda estou me adaptando à nova realidade com um bebê em casa? Esses questionamentos são normais e, na maioria das vezes, inevitáveis.
As Expectativas e a Realidade
A psicóloga perinatal Rafaela Schiavo, uma referência nesse campo, descreve que o retorno ao trabalho pode impactar mães de diferentes perfis e contextos. Eu, pessoalmente, vejo isso como uma questão universal, que vai além de qualquer classe social ou tipo de carreira. Não importa se a mãe trabalha em uma grande corporação ou se é empreendedora, a sensação de estar dividida entre dois mundos é quase sempre presente. Para Schiavo, uma transição mais suave e flexível no ambiente de trabalho é fundamental para minimizar os impactos emocionais dessa mudança. E aqui, eu não poderia concordar mais.
Sabe aquela sensação de estar no lugar errado, de sentir que a vida mudou tanto que, de repente, o trabalho parece algo distante? É exatamente isso que muitas mães relatam. A jornalista Júlia Bozzetto, mãe de um bebê de sete meses, compartilhou que se sentia como se o “castelo de cartas” de sua vida tivesse desmoronado quando voltou ao trabalho. Essa metáfora ilustra bem o peso que muitas mulheres carregam ao tentar equilibrar tudo. Já escutei essa mesma analogia de outras mães: o sentimento de estar exausta e, ao mesmo tempo, sobrecarregada.
Outro relato que chama a atenção é o de uma mãe que preferiu não se identificar. Ela falou sobre a brutalidade da separação, mesmo sabendo que era temporária e necessária. Isso me fez pensar: como podemos preparar as mães para essa transição, sabendo que a separação é inevitável, mas o sofrimento não precisa ser tão profundo?
O Impacto Emocional da Separação
De acordo com a pesquisa da Fawcett Society, em 2023, 84% das mães relataram dificuldades emocionais ao voltar ao trabalho, com 40% delas mencionando a culpa como um sentimento constante. A culpa, aliás, é uma emoção que, na minha opinião, poderia ser mais discutida na sociedade. Parece que é algo que simplesmente aceitamos como parte da maternidade, mas será que precisa ser assim?
Penso que entender essa culpa como uma expressão natural do amor é importante. É o que a psicóloga Rafaela Schiavo sugere: as mulheres se sentem culpadas porque querem estar presentes, porque se preocupam, e não porque estão fazendo algo errado. Isso me leva a refletir sobre como a sociedade e o próprio ambiente de trabalho tratam esse tipo de sentimento. Será que a empatia com as mães que retornam ao trabalho está realmente presente no cotidiano corporativo?
Por um lado, algumas empresas têm implementado políticas mais flexíveis, mas, infelizmente, essas ainda são a exceção e não a regra. Isso me faz pensar que temos um longo caminho a percorrer para que o retorno ao trabalho seja menos traumático para as mães. Muitas empresas ainda mantêm uma mentalidade rígida, sem perceber que um retorno gradual e acolhedor beneficiaria tanto as mães quanto a própria organização.
O Papel Crucial da Rede de Apoio
Eu sempre acreditei que ninguém faz nada sozinho, e esse sentimento se intensifica quando falamos de maternidade. Júlia Bozzetto relatou como sua sogra, cunhada e marido foram fundamentais para que ela conseguisse conciliar o trabalho com os cuidados do bebê. A importância de uma rede de apoio, seja ela formada por familiares, amigos ou até uma creche de confiança, não pode ser subestimada.
A psicóloga Rafaela Schiavo também destaca o valor do suporte emocional oferecido por essa rede. É algo que vai além de ajudar a cuidar do bebê; trata-se de oferecer conforto, de escutar e validar as emoções da mãe. Afinal, por mais que cada uma viva essa experiência de forma única, o apoio de quem está ao seu redor pode fazer toda a diferença.
Algo que me chamou atenção foi o relato da mãe que optou por colocar seu bebê em uma creche com câmeras. Esse tipo de tecnologia permite que as mães acompanhem o dia a dia de seus filhos em tempo real, e, por mais que isso não substitua a presença física, pode oferecer um pouco de paz de espírito. No entanto, é interessante pensar como, mesmo com toda essa segurança tecnológica, a culpa e a saudade permanecem.
O Desafio da Falta de Flexibilidade
Como alguém que trabalha em um ambiente corporativo, sempre observei como as empresas ainda têm dificuldades para lidar com mães que retornam de licença-maternidade. Mesmo quando se fala tanto sobre inclusão e bem-estar no local de trabalho, muitas organizações continuam com uma mentalidade engessada, sem oferecer horários flexíveis ou políticas que facilitem o retorno gradual dessas mulheres.
Eu acredito que isso é um erro. Não só pela falta de empatia, mas também porque, ao não acolher as mães nesse momento crucial, as empresas perdem a oportunidade de manter talentos que poderiam se destacar ainda mais. Não é raro ouvir que a falta de flexibilidade pode aumentar o estresse e até a sensação de culpa, prejudicando não só a saúde emocional da mãe, mas também o seu desempenho no trabalho.
Equidade nas Licenças Parentais: Um Caminho para o Futuro
No Brasil, as discussões sobre a ampliação da licença-paternidade ainda estão engatinhando, mas já é possível ver um movimento crescente a favor de maior equidade nas licenças parentais. De acordo com uma pesquisa do Datafolha, 76% dos brasileiros são favoráveis ao aumento da licença-paternidade. Na minha visão, essa é uma discussão extremamente necessária.
A psicóloga Rafaela Schiavo argumenta que, quando pais e mães compartilham as responsabilidades desde o início, as mulheres enfrentam menos desafios ao retomar suas carreiras. E os homens, por sua vez, têm a oportunidade de criar um vínculo mais forte com seus filhos. Esse compartilhamento de tarefas pode ajudar a aliviar um pouco da pressão sobre as mães e permitir que elas façam essa transição com menos culpa.
No entanto, apesar de avanços pontuais, como as licenças estendidas em algumas empresas, a realidade é que muitas mulheres ainda lidam com uma licença-maternidade de apenas 120 dias, o que, segundo a Organização Mundial da Saúde, não é suficiente. A recomendação é que a amamentação exclusiva dure pelo menos seis meses, o que só reforça a necessidade de revermos as políticas de licença-maternidade.
Como Lidar com o Retorno ao Trabalho?
Por mais desafiador que seja esse momento, é possível passar pelo retorno ao trabalho de forma mais leve e equilibrada. Eu acho que a palavra-chave aqui é “preparação”. A psicóloga Schiavo oferece algumas dicas valiosas, que eu gostaria de compartilhar com vocês:
- Antecipar uma separação gradual: Deixe o bebê com outras pessoas por algumas horas antes do retorno ao trabalho para que ambos possam se acostumar à separação.
- Construir uma rede de apoio: Ter familiares, amigos ou uma creche de confiança pode fazer toda a diferença para reduzir a ansiedade.
- Estabelecer prioridades e respeitar os limites: Não tente ser perfeita em todas as áreas. É essencial aceitar que você não precisa dar conta de tudo ao mesmo tempo.
- Buscar apoio psicológico: Se a culpa e o estresse se tornarem intensos, procurar um profissional pode ser crucial para evitar problemas mais sérios, como a depressão pós-parto.
- Conectar-se com o bebê no tempo disponível: Aproveite os momentos com o seu bebê de forma plena, sem distrações, para fortalecer o vínculo.
Considerações Finais
O retorno ao trabalho após a licença-maternidade não é um caminho fácil, mas é possível encontrar estratégias que tornem esse processo menos doloroso. Na minha opinião, o mais importante é lembrar que cada mãe tem sua própria jornada e que não existe uma fórmula única para lidar com os desafios que surgem nesse período.
Ter uma rede de apoio, contar com políticas de trabalho flexíveis e, acima de tudo, permitir-se sentir e viver todas as emoções, sem a pressão de ser perfeita, são passos importantes. Cada dia é uma oportunidade para ajustar as velas e seguir em frente, sabendo que, apesar das dificuldades, você está fazendo o melhor que pode.
Se você está passando por essa fase ou conhece alguém que esteja, compartilhe essas dicas e converse abertamente sobre os sentimentos envolvidos. Essa é uma jornada que, com o apoio certo, pode ser mais leve e cheia de aprendizado.
Para saber mais sobre esse tema, recomendo que você confira alguns dos recursos que podem te ajudar durante esse período, como os artigos disponíveis no Instituto MaterOnline. Eles são uma excelente fonte de informações e dicas práticas.