forumdoc.bh: Uma Viagem Cinematográfica pela Produção Contemporânea e Indígena no Brasil

Festival de Documentários e Etnografia oferece uma seleção especial e gratuita de filmes até 8 de dezembro

Até o dia 8 de dezembro, o forumdoc.bh – Festival do Filme Documentário e Etnográfico, Fórum de Antropologia e Cinema – disponibiliza, gratuitamente, em formato online, uma seleção especial de seu catálogo. São 24 filmes da Mostra Contemporânea Brasileira e 18 da Mekarõ Ti: Mostra-Seminário Coletivo Beture de Cineastas Mebêngôkre. Esta edição, uma das mais aguardadas pelos cinéfilos e estudiosos da antropologia, oferece uma rara oportunidade de acessar, sem custos, produções que refletem questões sociais, políticas e culturais do Brasil.

Os filmes podem ser acessados pelo site oficial do festival, forumdoc.org.br, e também estão disponíveis na plataforma de streaming gratuita Itaú Cultural Play (itauculturalplay.com.br), que tem se dedicado a exibir conteúdos nacionais de relevância. Uma característica importante das produções é o uso de recursos de acessibilidade, como legendas e audiodescrição, que visam proporcionar uma experiência mais inclusiva para o público.

A Mostra Contemporânea Brasileira: Uma Radiografia da Produção Documental Atual

A Mostra Contemporânea Brasileira traz uma seleção de filmes nacionais que foram finalizados nos últimos dois anos, com um foco especial no formato documental e suas várias interações com temas atuais. Esta mostra tem como objetivo fomentar e mapear a produção audiovisual recente de filmes documentários e etnográficos, abordando as complexas questões sociais e políticas do Brasil contemporâneo. A curadoria, realizada por Breno Henrique, Carol Almeida e Milene Migliano, resultou em uma seleção rica, que reflete a diversidade e as diversas camadas da realidade brasileira.

Entre os destaques da Mostra Contemporânea Brasileira, dois filmes se destacam pela profundidade e temática única. O primeiro é Amadeu, dirigido por Felipe Canêdo, um documentário de 52 minutos, que foi produzido em Minas Gerais e lançado em 2024. O filme acompanha a vida de Amadeu Martins, também conhecido como Grão-Mestre Dunga, uma figura icônica da Capoeira de Rua de Minas Gerais. Dunga é o patrono da tradicional Roda da Praça Sete, realizada há mais de 30 anos. Além de sua trajetória na capoeira, ele é massoterapeuta, compositor e oficial da reserva do Exército. O filme mergulha nas suas múltiplas facetas e na importância de sua figura para a cultura local.

Outro filme de grande destaque é A Transformação de Canuto, uma obra de Ariel Kuaray e Ernesto de Carvalho, que foi produzida em Pernambuco e São Paulo em 2023. Com 130 minutos de duração, o filme narra a criação de um documentário dentro da comunidade Mbyá-Guarani, situada na fronteira entre o Brasil e a Argentina. A narrativa gira em torno de Canuto, um homem que, anos atrás, sofreu uma mística transformação em uma onça e teve um destino trágico. O filme explora os mistérios por trás de sua história e os dilemas enfrentados pelos membros da aldeia ao escolher quem seria o responsável por interpretar o papel de Canuto no filme.

Mekarõ Ti: Uma Visão Íntegra da Produção Audiovisual Indígena

A outra grande atração do festival é a Mekarõ Ti: Mostra-Seminário Coletivo Beture de Cineastas Mebêngôkre, dedicada ao Coletivo Beture, um dos grupos de cineastas indígenas mais atuantes do Brasil atualmente. O Beture foi fundado em 2016 e desde então tem se destacado por sua produção prolífica, que utiliza tecnologias audiovisuais para registrar e dar visibilidade à vida, à cultura e às lutas políticas dos povos indígenas. A mostra é composta por cinco temáticas: Pyka (Terra), Mekarõ Tum, Me Ingrykam Karõ (Imagens de Arquivo e Imagens para a Luta), Metoro (Festa), Mekukradja Àbikàra (Cultura Misturada) e Mēkronro (O Contato).

O Coletivo Beture tem desempenhado um papel essencial não só na preservação da cultura indígena, mas também na luta por direitos territoriais e a manutenção das tradições de seus povos. Seus filmes, em grande parte, abordam temas como festas tradicionais, eventos políticos e as narrativas mitológicas dos povos Mẽbêngôkre-Kayapó. Essas produções circulam nas aldeias da região, situada entre os estados do Pará e Mato Grosso, mas também têm ganhado projeção no Brasil e no exterior.

Dois filmes da Mekarõ Ti merecem destaque. O primeiro é Mebêngôkre Pyka Mã Ruwyk  Ujarej | A Chegada dos Mêbêngôkre na Terra, dirigido por Kokokaroti Txucarramãe, Matsipaya Waura Txucarramãe e Simone Giovine. Com duração de 9 minutos e 30 segundos, o filme conta a história da chegada dos Mêbêngôkre à terra, como narrada pelo cacique Raoni a jovens cineastas Kayapó. A história, transmitida oralmente desde os tempos ancestrais, é um relato fundamental para a memória cultural do povo Mebêngôkre.

Já o segundo filme de destaque é Tuire Kayapó – O Gesto do Facão, uma produção do Coletivo Beture com a participação de Patkore Kayapó e Simone Giovine. Com 9 minutos e 37 segundos de duração, o filme retrata um momento histórico e simbólico da resistência indígena: a mobilização contra a Eletronorte em Altamira (PA) no ano de 1989. A história é contada pela guerreira Tuire, que transmite ao seu neto Patkore a importância de um gesto icônico – o levantamento do facão – que se tornou um símbolo da luta dos povos indígenas contra as ameaças à sua terra.

O Legado do forumdoc.bh: Cinema e Antropologia em Diálogo

Segundo Júnia Torres, organizadora e curadora do forumdoc.bh, o festival nasceu da interação entre cinema e antropologia, que fundamenta a visão e a abordagem do documentário na seleção dos filmes. “O forumdoc.bh, organizado pelo coletivo Filmes de Quintal, é um espaço de formação que construímos há mais de duas décadas, funcionando de forma coletiva e orgânica, com uma base de experiências compartilhadas”, afirma Torres. “Nesta edição, trazemos para Belo Horizonte uma seleção diversa, com produções recentes, documentários indígenas, obras de novos realizadores e realizadores e também filmes históricos.”

O festival não só tem se consolidado como um dos principais eventos de cinema documental do país, mas também como um espaço de reflexão e troca entre cineastas, antropólogos, e o público em geral. Ao longo de suas edições, tem se dedicado a dar visibilidade à produção audiovisual que dialoga diretamente com as questões mais urgentes da sociedade brasileira, como as lutas indígenas, os direitos humanos e as transformações sociais.

Além disso, o forumdoc.bh também se distingue pelo seu compromisso com a democratização do acesso à cultura. Ao disponibilizar a maior parte de sua programação gratuitamente, tanto no site oficial quanto nas plataformas de streaming, o festival oferece uma oportunidade ímpar para que o público de diferentes partes do Brasil, e até mesmo do mundo, possa acompanhar produções de alta qualidade e refletir sobre temas tão cruciais para o momento atual.

A Importância da Acessibilidade no Cinema

Uma característica que se destaca no festival deste ano é o empenho em tornar as produções mais acessíveis a diferentes públicos. Muitos dos filmes disponibilizados contam com recursos de acessibilidade, como legendas, audiodescrição e interpretação em libras, o que torna a experiência mais inclusiva para pessoas com deficiências auditivas e visuais. Esse compromisso com a acessibilidade demonstra uma preocupação em expandir as fronteiras do cinema, oferecendo a todos a oportunidade de vivenciar as narrativas que moldam a cultura brasileira.

Considerações Finais

O forumdoc.bh 2024 se apresenta como um espaço fundamental para o debate e a reflexão sobre o cinema documentário e etnográfico brasileiro. Sua seleção de filmes destaca a riqueza cultural do Brasil e oferece um olhar aprofundado sobre a produção audiovisual contemporânea, tanto de cineastas brasileiros como indígenas. Com a possibilidade de assistir gratuitamente a muitas dessas produções até 8 de dezembro, o festival se configura como uma oportunidade imperdível para todos os amantes do cinema e para aqueles interessados em entender as questões sociais, políticas e culturais que moldam o país.

Se você ainda não conferiu, não perca tempo e acesse as produções disponíveis no site oficial do festival e na plataforma Itaú Cultural Play. É uma chance única de embarcar em uma jornada cinematográfica rica, profunda e transformadora.

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