
Um Convite ao Tempo Antigo
Como blogueiro apaixonado por cultura, história e arte, fico encantado quando encontro exposições que nos permitem viajar no tempo. E a exposição “América pré-colombiana: corpo e território” , atualmente em cartaz na Casa Museu Ema Klabin, é um verdadeiro tesouro cultural. Até o dia 23 de fevereiro de 2025, os visitantes têm a oportunidade de explorar mais de 90 peças arqueológicas de antigas civilizações das Américas. Essa mostra não apenas celebra a riqueza da diversidade pré-colombiana, mas também nos convida a refletir sobre as conexões entre corpo, natureza e sociedade.
Neste artigo, quero compartilhar com vocês minha experiência e análise dessa exposição incrível. Vamos mergulhar juntos nessa jornada histórica e descobrir como a América pré-colombiana continua a nos inspirar com sua sofisticação cultural e sabedoria ancestral.
A Exposição: Um Espelho da Diversidade Cultural
A exposição apresenta artefatos datados entre 1800 a.C. e 1750 d.C., provenientes de regiões que hoje correspondem ao Peru, Equador, México, Costa Rica, Colômbia, Bolívia, Brasil e Venezuela. Esses objetos, produzidos em cerâmica, metais, têxteis, pedra e concha, revelam uma riqueza impressionante de técnicas e estilos artísticos. Muitos desses artefatos estão sendo expostos pela primeira vez, tornando essa mostra ainda mais especial.
Para quem gosta de números, aqui vai um dado curioso: a coleção abrange mais de 15 séculos de história! Isso significa que estamos diante de um panorama histórico vasto, que inclui culturas tão distintas quanto os Mochica do Peru e os povos Marajoara da Amazônia brasileira. Segundo Daniela La Chioma, curadora da exposição e doutora em arqueologia pelo Museu de Arqueologia e Etnologia da USP (MAE-USP), “a principal mensagem que queremos transmitir aos visitantes é que a América, antes da chegada dos europeus, era um continente extremamente diverso, com grande sofisticação cultural, ecológica e tecnológica” [1].
Essa ideia me tocou profundamente. É fácil pensar nas civilizações pré-colombianas como algo distante ou homogêneo, mas essa exposição prova o contrário. Cada peça conta uma história única, conectada às tradições e à cosmovisão de seus criadores.
Corpo, Mito e Natureza: Os Três Pilares da Mostra
Uma das coisas que mais me chamou a atenção foi a organização da exposição em três eixos narrativos principais: corpo, mito e natureza , além de uma seção dedicada às sonoridades. Esses temas são interligados e refletem a maneira como os povos indígenas entendiam e vivenciavam o mundo ao seu redor.
O Corpo como Expressão Cultural
O corpo humano é uma presença marcante nas peças exibidas. Para Emerson Nobre, mestre em arqueologia e co-curador da exposição, “o corpo é o lugar pelo qual as pessoas são socializadas” [2]. Essa perspectiva é fascinante porque nos ajuda a entender como os povos pré-colombianos viam o corpo não apenas como algo físico, mas como um veículo de expressão cultural e espiritual.
Um exemplo disso são as tangas de cerâmica da cultura Marajoara, encontradas na região amazônica. Essas peças variam em tamanho, formato e decoração, indicando que eram usadas em diferentes contextos, desde rituais até situações cotidianas. Segundo Emerson Nobre, essas tangas frequentemente apresentam sinais de uso, como orifícios para amarração e marcas de desgaste, mostrando que não foram feitas apenas para acompanhar os mortos em sepultamentos [3].
Mito e Sonoridade: A Força dos Símbolos
Os mitos e as sonoridades também ocupam um lugar central na exposição. Instrumentos musicais, como flautas e chocalhos, demonstram como o som era usado tanto em rituais quanto como forma de comunicação a longa distância. Durante a visita, os espectadores podem até manipular réplicas de peças sonoras produzidas pelo ceramista Carlo Cury, pesquisador de cerâmica dos povos nativos. Essa interatividade é um toque genial que aproxima o público da cultura pré-colombiana.
Destaques Regionais: Da Costa Peruana à Amazônia Brasileira
Outro aspecto que me encantou foi a representatividade regional da exposição. As peças vêm de várias partes das Américas, oferecendo uma visão abrangente do patrimônio cultural pré-colombiano. Aqui estão alguns destaques:
- Peru : A costa peruana está amplamente representada, com artefatos das culturas Mochica, Chimu, Lambayeque e Vicús, entre outras. Essas civilizações são conhecidas por suas habilidades em metalurgia e cerâmica.
- Amazônia : A cultura Marajoara, originária da ilha de Marajó, é um dos grandes destaques. Além das famosas tangas de cerâmica, há peças das culturas Santarém, Maracá e Caviana.
- México e América Central : Civilizações como os astecas e maias também estão presentes, mostrando a riqueza iconográfica e técnica desses povos.
Essa diversidade regional é um lembrete poderoso de que a América pré-colombiana era muito mais complexa do que muitos imaginam.
Reflexões Pessoais: Lições para o Presente
Ao caminhar pelos ambientes da Casa Museu Ema Klabin, fiquei impressionado com a relevância contemporânea dessas antigas culturas. Como mencionado pelos curadores, os modos de vida desses povos antigos têm muito a nos ensinar sobre sustentabilidade e harmonia com a natureza. Em tempos de crise ambiental, essa lição é mais importante do que nunca.
Além disso, a exposição reforça a importância de preservar e valorizar o legado indígena. Essas civilizações não são apenas parte do passado; elas continuam vivas nas comunidades indígenas que habitam nosso continente hoje. A exposição é uma homenagem a esses povos e um convite para que reconheçamos suas contribuições para a humanidade.
Informações Práticas para Visitar a Exposição
Se você, assim como eu, ficou interessado em conhecer essa exposição, aqui estão algumas informações úteis:
- Local : Casa Museu Ema Klabin (Rua Portugal, 43, Jardim Europa, São Paulo)
- Data : Até 23 de fevereiro de 2025
- Horários : De quarta-feira a domingo, das 11h às 17h
- Curadoria : Daniela La Chioma e Emerson Nobre
- Apoio : Klabin S.A.
Vale destacar que a Casa Museu Ema Klabin é uma instituição cultural sem fins lucrativos, dedicada à preservação da memória de Ema Klabin, uma empresária que teve papel fundamental no cenário cultural de São Paulo. Além da exposição temporária, a casa museu oferece uma programação rica, com cursos, palestras e apresentações artísticas.
Conclusão: Um Tributo à América Pré-Colombiana
A exposição “América pré-colombiana: corpo e território” é muito mais do que uma simples vitrine de artefatos antigos. Ela é uma celebração da diversidade cultural, um tributo às civilizações que moldaram nosso continente e uma reflexão sobre o legado que herdamos delas. Ao explorar os temas de corpo, mito e natureza, a mostra nos convida a olhar para o passado com admiração e respeito, mas também a aplicar suas lições no presente.
Se você tem interesse em história, arte ou cultura indígena, não pode perder essa oportunidade. Acredito que cada visitante sairá com uma nova perspectiva sobre a América pré-colombiana e sua relevância para nossas vidas hoje.