Um Incidente que Exige Reflexão: O Caso do Helicóptero em Duque de Caxias
Na manhã desta quinta-feira (20), um incidente envolvendo um helicóptero da Polícia Civil reacendeu a discussão sobre a modernização da rede elétrica no Brasil. Durante uma operação em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, a aeronave colidiu com fios de alta tensão ao tentar desviar de disparos efetuados por criminosos. Apesar das duas explosões geradas pelo impacto, os pilotos demonstraram extrema perícia e conseguiram realizar um pouso preventivo em segurança.
Esse episódio não apenas expôs as condições precárias da infraestrutura elétrica brasileira, mas também evidenciou os riscos que ela representa para a vida humana e a segurança pública. Como jornalista, vejo nesse caso um alerta claro: é hora de priorizar investimentos em redes subterrâneas, uma solução amplamente adotada em países desenvolvidos como Estados Unidos e França.
A Proposta de Crivella: Substituir Fiações Aéreas por Subterrâneas
Diante desse cenário preocupante, o deputado Marcelo Crivella reapresentou um projeto de lei que visa obrigar as concessionárias de energia a substituírem as redes aéreas por fiações subterrâneas. Essa proposta, inicialmente protocolada em 2011 quando Crivella era senador, foi arquivada e agora ganha novo fôlego após eventos como o apagão que deixou milhões de brasileiros sem luz no ano passado.
Segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), cerca de 36 mil ocorrências envolvendo fiações elétricas foram registradas nos últimos anos, resultando em mais de 4 mil mortes. Esse número alarmante reforça a urgência de medidas concretas. “Se seguirmos o exemplo dos EUA e da Europa, deixaremos um legado para as futuras gerações”, defende Crivella.
O projeto prevê a modernização das redes elétricas em cidades com mais de 300 mil habitantes, estabelecendo um prazo de quatro anos para implementação. Além disso, o parlamentar destaca que essa mudança é essencial para garantir a segurança durante eventos internacionais, como a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 30), que ocorrerá no Brasil.
Por Que Investir em Redes Subterrâneas?
Redução de Falhas e Acidentes
Especialistas afirmam que redes subterrâneas são mais seguras e confiáveis. De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o Brasil possui uma média de apenas 0,4% de linhas de energia enterradas, enquanto nos Estados Unidos esse índice chega a 20%. Em termos práticos, isso significa que cidades brasileiras estão mais vulneráveis a quedas de energia, acidentes envolvendo fiações e danos causados por intempéries climáticas.
Por outro lado, países como França e Estados Unidos já colhem os benefícios dessa modernização. Em Paris, por exemplo, toda a fiação elétrica está enterrada desde a década de 1950, organizada em túneis subterrâneos. Já Nova York conta com 71% de seu cabeamento subterrâneo, totalizando cerca de 150 mil quilômetros de fios no subsolo.
Comparação Internacional: Brasil x Mundo
Enquanto na Europa o tempo médio que uma residência fica sem luz é de apenas 12,2 minutos por ano — mesmo diante da crise energética causada pela guerra na Ucrânia —, no Brasil, algumas famílias relatam ficar mais de quatro dias sem energia. Isso reflete não apenas a fragilidade da infraestrutura, mas também a falta de planejamento estratégico para lidar com emergências.
Buenos Aires é outro exemplo positivo. Desde a década de 1950, a capital argentina avança na substituição da fiação aérea por subterrânea, reduzindo significativamente os índices de falhas no fornecimento de energia. No Brasil, São Paulo tem apenas 60 quilômetros de cabos aterrados, enquanto Rio de Janeiro e Belo Horizonte apresentam taxas de 11% e 2%, respectivamente.
Desafios e Benefícios da Modernização
Custos Iniciais vs. Retornos de Longo Prazo
Uma das principais objeções à adoção de redes subterrâneas é o custo inicial elevado. Entretanto, especialistas argumentam que os benefícios de longo prazo superam os investimentos iniciais. Além de reduzir falhas no fornecimento de energia, redes subterrâneas são mais resistentes a alagamentos e intempéries climáticas, o que diminui os custos de manutenção ao longo do tempo.
Outro ponto relevante é a segurança pública. Incidentes como o ocorrido em Duque de Caxias poderiam ser evitados se a fiação fosse enterrada. Além disso, redes subterrâneas melhoram a estética urbana, eliminando a poluição visual causada pelos postes e fios aéreos.
Um Legado para as Futuras Gerações
Como alguém que acompanha de perto as transformações urbanas no Brasil, acredito que a modernização da rede elétrica é uma oportunidade única de deixar um legado duradouro para as próximas gerações. Ao seguir o exemplo de países como França e Estados Unidos, podemos construir cidades mais seguras, eficientes e sustentáveis.
Conclusão: O Momento de Agir é Agora
O incidente envolvendo o helicóptero da Polícia Civil em Duque de Caxias serve como um lembrete de que não podemos mais adiar a modernização da rede elétrica brasileira. Com menos de 1% da fiação atualmente subterrânea, estamos muito aquém dos padrões internacionais.
O projeto de lei apresentado pelo deputado Marcelo Crivella é um passo importante nessa direção. Ao exigir que as concessionárias invistam em redes subterrâneas, estaremos protegendo vidas, reduzindo falhas no fornecimento de energia e promovendo o desenvolvimento urbano sustentável.
É hora de olharmos para o futuro com otimismo e determinação. A modernização da rede elétrica não é apenas uma questão técnica, mas um compromisso com a segurança, a qualidade de vida e o progresso do nosso país.
