
Entenda por que repensar nossa alimentação é urgente e como os nutricionistas podem ser agentes de mudança em tempos de crise climática
Olá, pessoal! Aqui é o Rafael. Hoje, quero falar sobre algo que está na ponta da língua (literalmente!) de muita gente: comida. Mas não estamos falando apenas de sabores ou pratos deliciosos — estamos falando do futuro da nossa alimentação e do planeta.
Em 31 de março, celebramos o Dia Nacional da Saúde e Nutrição, uma data que ganhou um tom ainda mais urgente este ano. O Conselho Federal de Nutrição (CFN) trouxe à tona uma questão que não pode mais ser ignorada: a necessidade de repensarmos nossos sistemas alimentares frente às mudanças climáticas. E sabe o que isso significa para você? Que o prato que você escolhe hoje pode influenciar diretamente no tipo de alimento disponível amanhã. Então, vamos mergulhar nesse tema?
A Crise Climática e a Segurança Alimentar: Um Casamento Perigoso
O CFN não está exagerando ao dizer que estamos diante de uma emergência. De acordo com estimativas do governo federal, o setor agrícola brasileiro acumulou perdas superiores a US$ 57 bilhões nos últimos dez anos devido a eventos climáticos severos. Regiões como o Nordeste e o Centro-Oeste enfrentam secas prolongadas, enquanto o Sul sofre com chuvas excessivas. Esses fenômenos já estão afetando diretamente a produção de alimentos, comprometendo a oferta e agravando a insegurança alimentar no país.
“A crise climática está diretamente ligada à segurança alimentar. Se não repensarmos a forma como produzimos e consumimos alimentos, a população enfrentará desafios crescentes no acesso a uma alimentação adequada”, afirma Erika Carvalho, presidenta do CFN.
Essa declaração me fez refletir: será que estamos realmente cientes de como as mudanças climáticas impactam o que colocamos no prato? Por exemplo, você sabia que a queda nos índices de chuva no Nordeste tem reduzido drasticamente a produção de hortaliças e grãos? Enquanto isso, no Sul, o excesso de precipitações tem prejudicado colheitas e gerado instabilidade no abastecimento. É um cenário preocupante, mas também uma oportunidade para revermos nossas escolhas alimentares.
Além disso, vale destacar que esses eventos climáticos extremos não afetam apenas a quantidade de alimentos disponíveis, mas também sua qualidade. Estudos apontam que altas temperaturas e estresse hídrico podem alterar o valor nutricional de cultivos importantes, como arroz e trigo, reduzindo o teor de nutrientes essenciais como ferro e zinco. Isso significa que, mesmo quando há comida disponível, ela pode não oferecer os benefícios nutricionais esperados.
Outro ponto importante é a dependência global de commodities agrícolas. O Brasil, por exemplo, é um dos maiores exportadores de soja e carne bovina do mundo. No entanto, a intensificação dessas cadeias produtivas está diretamente ligada ao desmatamento e ao aumento das emissões de gases de efeito estufa. Repensar essas práticas não é apenas uma questão ambiental, mas também ética.
Nutricionistas como Agentes de Mudança
Nesse contexto, os nutricionistas e técnicos em nutrição e dietética (TNDs) surgem como figuras estratégicas na promoção de sistemas alimentares mais sustentáveis e resilientes. Eles não estão apenas preocupados com a saúde individual, mas também com a saúde do planeta.
Segundo dados do Anuário Estatístico da Agricultura Familiar/FAO-2022, a agricultura familiar representa 77% dos estabelecimentos rurais do Brasil e emprega mais de 10 milhões de pessoas. Esse setor é visto como fundamental para garantir um sistema alimentar de baixo impacto ambiental. Nutricionistas têm atuado diretamente na valorização dessa cadeia, formulando políticas públicas que priorizam alimentos locais, sazonais e da sociobiodiversidade brasileira.
Mas o que isso significa na prática? Imagine um hospital público que decide adotar cardápios baseados em alimentos regionais. Além de reduzir custos com transporte e armazenamento, essa iniciativa incentiva o consumo de produtos frescos e nutritivos, ao mesmo tempo que fortalece a economia local. Isso é apenas um exemplo de como os profissionais da nutrição podem transformar a realidade alimentar de comunidades inteiras.
Além disso, eles são agentes ativos na luta contra o desperdício. De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), cerca de 17% dos alimentos disponíveis no Brasil acabam descartados. “Os nutricionistas podem orientar a população sobre escolhas alimentares mais sustentáveis, ajudando a minimizar o desperdício e incentivando o consumo de alimentos da sociobiodiversidade brasileira”, diz Erika Carvalho.
Essa ideia me chamou muito a atenção. Quantas vezes já jogamos fora aquele legume esquecido na geladeira ou compramos alimentos fora de época sem pensar nas consequências? A boa notícia é que pequenas mudanças no nosso comportamento podem fazer uma grande diferença.
Por exemplo, ao planejar suas refeições semanais, você pode evitar compras desnecessárias e garantir que todos os alimentos sejam consumidos antes de estragarem. Outra dica é reaproveitar cascas, talos e folhas de vegetais para preparar caldos, sopas ou até mesmo chips caseiros. Essas práticas simples não só reduzem o desperdício, mas também maximizam o aproveitamento dos nutrientes presentes nos alimentos.
Saberes Tradicionais: A Lição Que Vem do Passado
Outro ponto destacado pelo CFN é a valorização dos saberes alimentares de comunidades tradicionais, como indígenas, quilombolas e ribeirinhos. Essas populações mantêm práticas sustentáveis de cultivo e consumo há séculos, oferecendo exemplos concretos de equilíbrio entre segurança alimentar e preservação ambiental.
Refletindo sobre isso, percebi que muitas vezes subestimamos o conhecimento ancestral. Afinal, quem melhor do que essas comunidades para nos ensinar como coexistir harmoniosamente com a natureza? Incorporar esses saberes em nossas rotinas pode ser um passo importante rumo à nutrição sustentável.
Um exemplo marcante é o uso de plantas nativas como fonte de alimento e medicina. Tribos indígenas da Amazônia, por exemplo, utilizam o açaí não apenas como alimento energético, mas também como parte de rituais e práticas culturais. Da mesma forma, comunidades quilombolas no Maranhão cultivam o babaçu, uma palmeira que fornece óleo, farinha e outros produtos essenciais para sua subsistência.
Essas práticas demonstram que é possível produzir alimentos de forma sustentável, respeitando os ciclos naturais e promovendo a biodiversidade. Ao integrar esses saberes aos sistemas alimentares modernos, podemos criar soluções inovadoras para os desafios atuais.
Nutrição Sustentável no Cenário Global
Esse debate não se limita ao Brasil. Com a realização da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), marcada para novembro de 2025 em Belém (PA), o CFN tem mobilizado esforços para garantir que a nutrição sustentável esteja no centro das discussões globais.
“A nutrição sustentável precisa estar no centro das discussões sobre o futuro do planeta. Profissionais da Nutrição são agentes estratégicos para a promoção de hábitos alimentares saudáveis e ambientalmente responsáveis”, conclui Erika Carvalho.
Essa visão global é crucial. Precisamos entender que nossas escolhas alimentares têm um impacto direto no meio ambiente. Ao optar por alimentos locais, sazonais e produzidos de forma sustentável, estamos contribuindo para um futuro mais justo e equilibrado.
Um exemplo internacional inspirador é o movimento “Slow Food”, que surgiu na Itália nos anos 1980 e hoje está presente em mais de 160 países. O Slow Food defende a valorização de alimentos tradicionais, o respeito aos produtores locais e a preservação da biodiversidade. No Brasil, o movimento tem ganhado força, com iniciativas como feiras agroecológicas e restaurantes que priorizam ingredientes orgânicos e regionais.
Como Você Pode Contribuir?
Chegamos ao ponto mais importante: o que você pode fazer para adotar uma alimentação mais sustentável? Aqui vão algumas dicas práticas:
- Priorize alimentos locais e sazonais : Além de serem mais frescos e nutritivos, esses alimentos têm um menor impacto ambiental, pois não precisam ser transportados por longas distâncias.
- Reduza o desperdício : Planeje suas refeições, armazene os alimentos corretamente e reaproveite sobras criativamente.
- Explore a sociobiodiversidade brasileira : Experimente ingredientes típicos da nossa biodiversidade, como castanha-do-pará, baru e pequi.
- Incentive a agricultura familiar : Sempre que possível, compre produtos de pequenos produtores locais.
Além disso, é importante lembrar que pequenas ações individuais podem ter um impacto coletivo significativo. Por exemplo, ao escolher um café orgânico certificado, você está apoiando práticas agrícolas que respeitam o solo e os ecossistemas. Da mesma forma, ao evitar embalagens plásticas descartáveis, você contribui para reduzir a poluição ambiental.
Desafios e Oportunidades no Caminho da Nutrição Sustentável
Embora o caminho rumo à nutrição sustentável seja promissor, ele não está isento de desafios. Um dos principais obstáculos é a falta de conscientização e educação sobre o tema. Muitas pessoas ainda desconhecem os impactos ambientais de suas escolhas alimentares ou não sabem como adotar práticas mais sustentáveis no dia a dia.
Outro desafio é o custo inicial de alimentos orgânicos ou produzidos de forma sustentável, que muitas vezes são mais caros do que os convencionais. No entanto, é importante considerar que esses produtos geralmente oferecem maior qualidade e durabilidade, além de benefícios ambientais e sociais a longo prazo.
Por outro lado, existem inúmeras oportunidades para avançarmos nessa área. Tecnologias como agricultura vertical, hidroponia e biofortificação estão revolucionando a forma como produzimos alimentos, tornando-a mais eficiente e menos impactante. Além disso, iniciativas de economia circular, que buscam reaproveitar resíduos agrícolas, estão ganhando força e oferecendo soluções criativas para problemas antigos.
Um Futuro Mais Saudável Está em Nossas Mãos
Repensar nossos hábitos alimentares não é apenas uma questão de saúde individual, mas também de responsabilidade coletiva. Os nutricionistas têm um papel fundamental nessa transformação, mas cada um de nós também pode fazer a diferença.
Ao adotar práticas mais sustentáveis, estamos investindo em um futuro onde todos terão acesso a alimentos saudáveis e nutritivos. E, convenhamos, não há nada mais gratificante do que saber que estamos cuidando tanto de nós mesmos quanto do planeta.
Então, na próxima vez que você for ao mercado ou preparar uma refeição, lembre-se: o futuro começa no seu prato.
Links Úteis:
- Conselho Federal de Nutrição (CFN)
- Anuário Estatístico da Agricultura Familiar/FAO
- Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA)
Espero que tenham gostado deste artigo! Se você concorda ou discorda de algo, deixe sua opinião nos comentários. Até a próxima, pessoal!