
O cenário da cibersegurança brasileira ganhou novos contornos durante o Minas Summit, realizado nos dias 5 e 6 de junho em Belo Horizonte, quando a Cybergate, empresa especializada em soluções de segurança digital com DNA israelense, promoveu dois painéis estratégicos que reuniram os principais especialistas do setor. O evento consolidou-se como um marco importante para o debate sobre os desafios contemporâneos da proteção digital, evidenciando tanto as vulnerabilidades atuais quanto as soluções inovadoras disponíveis no mercado.
A iniciativa da Cybergate reflete uma necessidade urgente do mercado brasileiro: aprofundar o conhecimento sobre cibersegurança em um momento em que os ataques cibernéticos se tornam cada vez mais sofisticados e direcionados. Com projeções de faturamento de R$ 350 milhões em cinco anos, a empresa demonstra não apenas ambição comercial, mas também compromisso com a evolução do setor de segurança digital no país.
O timing do evento é particularmente relevante, considerando que o Brasil registrou um aumento de 94% nos ataques cibernéticos em 2024, segundo dados da Kaspersky, colocando o país entre os mais visados por criminosos digitais na América Latina. Neste contexto, eventos como o Minas Summit se tornam fundamentais para a disseminação de conhecimento e melhores práticas.
Durante os dois dias de programação, especialistas de renome internacional e nacional compartilharam insights valiosos sobre as principais tendências, desafios e oportunidades do setor de cibersegurança, proporcionando uma visão abrangente dos caminhos que as organizações devem seguir para manter-se protegidas em um ambiente digital cada vez mais complexo.
Primeiro Painel: Tecnologia, Estratégia e Capital Humano na Cibersegurança
O painel inaugural, intitulado “Cibersegurança no Mundo Real: Tecnologia, Estratégia e Gente”, foi mediado por Alexis Aguirre e contou com a participação de três especialistas de destaque: Ivan Mendes Cardoso Filho, presidente do Brain e diretor de Inovação da Algar Telecom; Carlos Basílio, Global ISG Solution Strategist na Dell; e Kleyton Faria, Cyber Security Specialist da Sonda.
Ataques Sofisticados: Nova Realidade das Infraestruturas Críticas
Um dos pontos centrais da discussão foi o impacto crescente dos ataques direcionados a infraestruturas críticas. Os especialistas destacaram que a nova geração de ameaças cibernéticas vai muito além dos tradicionais ataques de ransomware, incorporando técnicas de engenharia social avançada, inteligência artificial maliciosa e exploração de vulnerabilidades zero-day.
Ivan Mendes Cardoso Filho, com sua experiência no setor de telecomunicações, enfatizou como as infraestruturas de comunicação se tornaram alvos prioritários para grupos de cibercriminosos patrocinados por estados. “Não estamos mais lidando apenas com hackers isolados, mas com organizações estruturadas que possuem recursos financeiros e tecnológicos equivalentes aos de grandes corporações”, explicou durante sua apresentação.
A discussão revelou que setores como energia elétrica, transporte, saúde e telecomunicações enfrentam desafios únicos devido à natureza crítica de seus serviços. A interrupção desses sistemas pode causar impactos econômicos e sociais devastadores, elevando a importância de estratégias de proteção robustas e resilientes.
Gestão de Vulnerabilidades: O Elo Fraco Negligenciado
Outro tema abordado com profundidade foi a persistente negligência na gestão de vulnerabilidades por parte de muitas organizações brasileiras. Carlos Basílio, da Dell, apresentou dados alarmantes sobre como empresas de diversos portes mantêm sistemas desatualizados e patches de segurança não aplicados, criando janelas de oportunidade para atacantes.
O especialista destacou que a gestão eficaz de vulnerabilidades não é apenas uma questão técnica, mas envolve processos organizacionais, governança e cultura empresarial. “Muitas empresas investem milhões em soluções de segurança avançadas, mas falham no básico: manter seus sistemas atualizados e identificar vulnerabilidades conhecidas”, observou Basílio.
A discussão também abordou o conceito de “dívida de segurança”, um acúmulo de vulnerabilidades não corrigidas que se transformam em riscos crescentes ao longo do tempo. Os painelistas concordaram que organizações que não priorizarem a gestão proativa de vulnerabilidades enfrentarão custos exponencialmente maiores no futuro.
Microsegmentação e Zero Trust: Da Teoria à Prática
Um dos segmentos mais técnicos do painel focou nas possibilidades reais de implementação da microsegmentação e do modelo Zero Trust em organizações brasileiras. Kleyton Faria, da Sonda, compartilhou experiências práticas sobre como essas abordagens podem ser adaptadas às realidades orçamentárias e operacionais das empresas nacionais.
A microsegmentação, que envolve a criação de zonas de segurança granulares dentro da rede corporativa, foi apresentada como uma evolução natural do perímetro de segurança tradicional. Os especialistas explicaram como essa abordagem pode limitar significativamente o movimento lateral de atacantes que conseguem penetrar nas redes corporativas.
O modelo Zero Trust, por sua vez, foi discutido como uma mudança de paradigma que assume que nenhum usuário ou dispositivo é confiável por padrão. Os painelistas apresentaram casos reais de implementação, destacando os desafios culturais e técnicos, mas também os benefícios tangíveis em termos de redução de riscos e melhoria da postura de segurança.
Inteligência Artificial: Transformando a Segurança da Informação
O papel da inteligência artificial na segurança da informação foi outro tópico de destaque, com os especialistas explorando tanto as oportunidades quanto os desafios apresentados por essa tecnologia. A discussão revelou que a IA está impactando positivamente áreas como detecção de anomalias, resposta automatizada a incidentes e análise preditiva de ameaças.
Os painelistas destacaram como algoritmos de machine learning podem processar volumes massivos de dados de segurança, identificando padrões sutis que seriam impossíveis de detectar manualmente. Essa capacidade é especialmente valiosa na identificação de ameaças avançadas persistentes (APT) e na redução de falsos positivos em sistemas de monitoramento.
Contudo, a discussão também abordou os desafios éticos e práticos da implementação de IA em segurança, incluindo questões de privacidade, transparência algorítmica e a necessidade de supervisão humana especializada.
Segundo Painel: Ecossistema Israelense de Inovação
O segundo painel, “Israel: ecossistema de inovação e conexões globais”, trouxe uma perspectiva única sobre como o ecossistema tecnológico israelense pode contribuir para a evolução da cibersegurança no Brasil. A mesa redonda foi composta por Alexis Aguirre, diretor da Cybergate no Brasil; Betty Dabkiewicz, Associate Business & Venture Partner da IBI-Tech; Caio van Deursen, membro do executive board do Mining Hub; e Shaul Shashoua, presidente da IBI-Tech.
Desafios de Inovação em Grandes Corporações
A discussão iniciou-se com uma análise profunda dos obstáculos que grandes empresas enfrentam ao tentar implementar inovações tecnológicas. Os painelistas identificaram duas categorias principais de desafios: internos e externos.
Internamente, as organizações enfrentam barreiras culturais significativas, incluindo resistência à mudança, estruturas hierárquicas rígidas e processos burocráticos que dificultam a adoção de novas tecnologias. Betty Dabkiewicz destacou como essas barreiras são particularmente pronunciadas em setores tradicionais, onde a aversão ao risco pode impedir a implementação de soluções inovadoras de segurança.
Externamente, as empresas enfrentam desafios na identificação e avaliação de soluções tecnológicas confiáveis. O mercado de cibersegurança é caracterizado por uma proliferação de fornecedores e soluções, tornando difícil para os tomadores de decisão distinguir entre tecnologias genuinamente inovadoras e marketing exagerado.
Ecossistema Israelense: Velocidade e Redução de Riscos
Shaul Shashoua apresentou uma visão abrangente do ecossistema tecnológico israelense, enfatizando suas características distintivas: maturidade, velocidade de desenvolvimento e foco sistemático na redução de riscos. Ele explicou como o ambiente único de Israel, marcado por necessidades de segurança constantes, criou uma cultura de inovação pragmática e orientada para resultados.
O executivo destacou que as empresas israelenses de tecnologia são caracterizadas por ciclos de desenvolvimento extremamente rápidos, validação rigorosa de conceitos e uma abordagem orientada para a solução de problemas reais. Essa mentalidade resulta em soluções que não apenas são tecnologicamente avançadas, mas também práticas e implementáveis em ambientes corporativos complexos.
A discussão também abordou como o ecossistema israelense desenvolveu uma rede robusta de mentores, investidores e especialistas técnicos que aceleram o processo de inovação e reduzem os riscos associados ao desenvolvimento de novas tecnologias.
Parcerias Estratégicas Brasil-Israel
Caio van Deursen compartilhou insights sobre as oportunidades de colaboração entre o ecossistema brasileiro e israelense, destacando como essas parcerias podem acelerar a adoção de tecnologias avançadas de cibersegurança no Brasil. Ele enfatizou que o mercado brasileiro oferece escala e diversidade de casos de uso que podem beneficiar empresas israelenses, enquanto o Brasil pode acessar tecnologias comprovadas e adaptadas às suas necessidades específicas.
A discussão revelou que parcerias bem-sucedidas entre empresas brasileiras e israelenses requerem uma compreensão profunda das diferenças culturais, regulatórias e operacionais entre os dois países. Os painelistas compartilharam dicas práticas sobre como estruturar essas parcerias para maximizar benefícios mútuos.
Segurança como Questão de Sobrevivência
Um dos momentos mais impactantes do painel foi a reflexão sobre como, em Israel, a segurança transcende questões corporativas para se tornar uma questão de sobrevivência nacional. Essa perspectiva única resulta em uma abordagem à cibersegurança que é simultaneamente mais urgente e mais inovadora.
Os painelistas explicaram como essa mentalidade de “segurança como sobrevivência” permeia toda a indústria tecnológica israelense, resultando em soluções que são testadas em ambientes extremamente adversos e validadas sob pressão real. Essa característica torna as tecnologias israelenses particularmente adequadas para organizações que enfrentam ameaças sofisticadas e persistentes.
Análise de Impacto: Transformando o Cenário da Cibersegurança Brasileira
O impacto dos painéis promovidos pela Cybergate no Minas Summit estende-se muito além do evento em si, representando um catalisador importante para a evolução do setor de cibersegurança no Brasil. Para diferentes stakeholders, as discussões ofereceram insights valiosos e direcionamentos estratégicos.
Do ponto de vista empresarial, as apresentações forneceram um roteiro claro para organizações que buscam modernizar suas estratégias de segurança. As discussões sobre Zero Trust e microsegmentação, em particular, ofereceram perspectivas práticas sobre como implementar essas abordagens avançadas em contextos brasileiros.
Para profissionais de segurança da informação, o evento destacou a importância de desenvolver competências em áreas emergentes como inteligência artificial aplicada à segurança e gestão estratégica de vulnerabilidades. Essas insights são fundamentais para o desenvolvimento de carreira em um mercado que demanda especialização crescente.
Do ponto de vista econômico, as projeções da Cybergate de atingir R$ 350 milhões em faturamento em cinco anos sinalizam o potencial de crescimento do setor de cibersegurança no Brasil. Esse crescimento pode resultar na criação de empregos especializados e no desenvolvimento de um ecossistema tecnológico mais robusto.
O impacto regulatório também não pode ser ignorado. As discussões sobre conformidade e gestão de riscos oferecem insights valiosos para reguladores que buscam desenvolver frameworks mais eficazes para a proteção de infraestruturas críticas e dados sensíveis.
Perspectiva Comparativa: Brasil versus Mercados Globais
Comparando o cenário brasileiro de cibersegurança com mercados mais maduros como Estados Unidos, Europa e Israel, torna-se evidente que o Brasil está em um momento de transição crítica. Enquanto países como Israel desenvolveram ecossistemas de cibersegurança impulsionados por necessidades de segurança nacional, o Brasil está construindo sua expertise principalmente através de demandas comerciais e regulamentares.
A abordagem israelense, caracterizada pela integração entre setor público e privado, contrasta com o modelo brasileiro, onde a colaboração entre esses setores ainda está em desenvolvimento. No entanto, essa diferença também representa uma oportunidade para o Brasil aprender com experiências internacionais e desenvolver modelos híbridos adaptados às suas necessidades específicas.
Em termos de investimento em pesquisa e desenvolvimento, Israel destina aproximadamente 4,3% do seu PIB para P&D, com uma parcela significativa focada em tecnologias de segurança. O Brasil, com investimento de aproximadamente 1,2% do PIB em P&D, tem potencial para aumentar significativamente seus investimentos em cibersegurança, especialmente considerando as ameaças crescentes.
A comparação também revela oportunidades de colaboração. Enquanto Israel possui expertise técnica avançada, o Brasil oferece um mercado doméstico vasto e diversificado que pode servir como laboratório para soluções inovadoras. Essa complementaridade pode resultar em parcerias estratégicas mutuamente benéficas.
Perguntas Frequentes Sobre Cibersegurança Empresarial
1. Como implementar Zero Trust em pequenas e médias empresas brasileiras? A implementação de Zero Trust em PMEs deve ser gradual e focada em elementos essenciais como autenticação multifator, controle de acesso baseado em identidade e monitoramento de atividades suspeitas. Não é necessário implementar todas as tecnologias simultaneamente; o importante é estabelecer os princípios fundamentais e expandir gradualmente.
2. Quais são os principais erros na gestão de vulnerabilidades? Os erros mais comuns incluem a falta de inventário atualizado de ativos, ausência de processos sistemáticos de patch management, priorização inadequada de vulnerabilidades críticas e falta de comunicação entre equipes técnicas e de negócios. Muitas organizações também subestimam vulnerabilidades em sistemas legados.
3. Como a inteligência artificial pode melhorar a detecção de ameaças? A IA pode processar grandes volumes de dados de log, identificar padrões anômalos, reduzir falsos positivos e acelerar tempos de resposta a incidentes. Algoritmos de machine learning podem detectar comportamentos suspeitos que seriam impossíveis de identificar manualmente, especialmente em redes complexas com milhares de usuários e dispositivos.
4. Por que as soluções israelenses são consideradas avançadas? As soluções israelenses são desenvolvidas em um ambiente de alta pressão e ameaças reais constantes, resultando em tecnologias testadas em cenários extremos. O país possui um ecossistema único que combina necessidades militares, expertise acadêmica e empreendedorismo tecnológico, criando soluções práticas e eficazes.
5. Qual o papel da microsegmentação na arquitetura de segurança moderna? A microsegmentação cria zonas de segurança granulares que limitam o movimento lateral de atacantes dentro da rede. Em vez de confiar em um perímetro único, essa abordagem assume que ameaças podem estar presentes internamente e cria múltiplas camadas de proteção, reduzindo significativamente o impacto de possíveis violações.
Conclusão: Definindo o Futuro da Cibersegurança Brasileira
Os painéis promovidos pela Cybergate no Minas Summit representam mais do que simples discussões técnicas; eles sinalizam uma mudança fundamental na abordagem brasileira à cibersegurança. A convergência de especialistas nacionais e internacionais criou um ambiente propício para a troca de conhecimentos e a identificação de soluções práticas para desafios complexos.
A iniciativa da Cybergate de promover esses debates demonstra maturidade estratégica e visão de longo prazo. Com projeções ambiciosas de crescimento e o objetivo de ampliar a participação das soluções israelenses no mercado brasileiro, a empresa está posicionando-se como um catalisador importante para a evolução do setor.
As discussões revelaram que o futuro da cibersegurança no Brasil dependerá da capacidade das organizações de integrar tecnologia avançada, processos estruturados e capital humano qualificado. A abordagem holística apresentada nos painéis oferece um roteiro claro para essa integração.
Para o mercado brasileiro, o evento representa um marco na evolução da maturidade em cibersegurança. As parcerias entre ecossistemas tecnológicos brasileiros e israelenses podem acelerar significativamente a adoção de tecnologias avançadas e a capacitação de profissionais especializados.
O caminho à frente exige investimento contínuo em educação, pesquisa e desenvolvimento de soluções adaptadas às necessidades específicas do mercado brasileiro. O Minas Summit demonstrou que existe expertise, vontade e recursos para enfrentar esses desafios de forma colaborativa e inovadora.
Mantenha-se atualizado sobre as últimas tendências em cibersegurança e descubra como sua organização pode implementar soluções avançadas de proteção digital. Participe da próxima edição do Minas Summit e conecte-se com os principais especialistas do setor.