Caminhoneiros Falam em Greve e ANTT se Posiciona Contra Aumento dos Pneus

A Nova Disputa Sobre a Tarifa de Importação de Pneus

Quando o assunto é transporte rodoviário, é difícil não pensar nos caminhoneiros, uma categoria que move boa parte da economia do Brasil. Recentemente, a questão dos preços dos pneus voltou à tona, especialmente com a discussão sobre o aumento da tarifa de importação de pneus, de 16% para 35%. A proposta tem dividido opiniões e gerado tensões entre os caminhoneiros e a indústria de pneus. E, claro, isso não passa despercebido pela Agência Nacional de Transportes (ANTT), que já se posicionou contra essa medida.

ANTT: Uma Voz de Preocupação

A ANTT se manifestou pela primeira vez sobre esse possível aumento na tarifa de importação de pneus. José Aires Amaral Filho, superintendente de Serviços de Transporte Rodoviário da agência, não economizou nas palavras ao afirmar que tal medida poderia resultar no sucateamento do setor. A preocupação principal da ANTT é com os transportadores autônomos, uma categoria que já enfrenta altos custos operacionais e não teria como repassar o aumento dos pneus para o preço do frete.

Esse posicionamento é significativo, já que 94% dos 747 mil transportadores registrados no Brasil possuem até três veículos. Estamos falando de uma parcela gigantesca de trabalhadores que não têm margens de lucro para absorver um aumento tão grande no custo de um insumo essencial, como os pneus. E eu entendo completamente essa angústia. Os caminhoneiros, especialmente os autônomos, já lidam com desafios diários para se manterem na estrada, e qualquer aumento no custo dos insumos pode ser a gota d’água.

A Lembrança da Greve de 2018

E como esquecer a greve dos caminhoneiros de 2018? Naquela ocasião, o aumento do preço do óleo diesel foi o estopim para uma paralisação que praticamente parou o país. Everaldo Bastos, representante da Fetrabens, fez questão de relembrar esse momento. Segundo ele, os caminhoneiros só conseguem comprar pneus novos atualmente porque os preços estão baixos, graças à concorrência dos pneus importados. Se essa concorrência for reduzida com o aumento da tarifa, os preços inevitavelmente subirão, e os caminhoneiros voltarão a sentir a pressão.

Essa fala de Bastos me parece um sinal claro de alerta. Já vimos o que aconteceu quando o diesel subiu, e sabemos que a categoria não hesita em se mobilizar para defender seus direitos. Se os pneus, que são um insumo básico para os caminhoneiros, também subirem de preço, será que estaríamos à beira de uma nova greve?

O Argumento da Indústria de Pneus

Por outro lado, a Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (ANIP) defende o aumento da tarifa de importação. Eles argumentam que as importações têm aumentado muito nos últimos anos, prejudicando as empresas nacionais. É verdade que a indústria nacional de pneus sofre com a concorrência dos importados, que muitas vezes são mais baratos, mas será que aumentar a tarifa é a solução?

A ANIP estima que, se a tarifa subir para 35%, o preço dos pneus tanto para veículos de transporte quanto para os de passeio deverá subir entre 20% e 25%. Agora, imagine o impacto disso para os caminhoneiros. Já não basta o preço dos combustíveis, das peças e da manutenção dos caminhões, agora os pneus também ficarão mais caros. E quem é que vai absorver esse custo? Novamente, os autônomos não têm como repassar tudo isso para o frete, e é aí que mora o perigo.

Os Impactos no Transporte Rodoviário

O estudo da Guimarães Consultoria trouxe números preocupantes. Segundo eles, se a tarifa de importação de pneus aumentar, haverá um impacto direto nos gastos do setor de transporte rodoviário, com uma elevação de cerca de 6%. Parece pouco à primeira vista, mas quando falamos de uma indústria tão grande e essencial quanto o transporte rodoviário, isso significa bilhões de reais. Além disso, o estudo aponta uma redução de 8% na compra de pneus de passeio e de 3,2% nos pneus de carga.

E o mais preocupante: essa redução nas compras pode ter consequências diretas na segurança do transporte no país. Com pneus mais caros, há uma tendência de que os caminhoneiros posterguem a troca de pneus ou optem por produtos de menor qualidade, o que pode aumentar o risco de acidentes. É um efeito dominó que, no final, acaba prejudicando não só os transportadores, mas todos os usuários das rodovias brasileiras.

Abidip e os Prejuízos para a Economia Brasileira

Outra entidade que tem uma visão bastante crítica sobre o aumento da tarifa é a Associação Brasileira dos Distribuidores e Importadores de Pneus (Abidip). Eles argumentam que o aumento do imposto de importação para pneus terá impactos econômicos negativos significativos, incluindo uma pressão inflacionária e o aumento nos custos de transporte. E eu não poderia concordar mais com essa visão. O Brasil já lida com uma inflação alta, e qualquer medida que contribua para o aumento de custos no setor de transporte tem o potencial de agravar ainda mais essa situação.

Ricardo Alípio, diretor da Abidip, foi bem enfático ao falar sobre os impactos adversos na economia como um todo. De fato, quando os custos de transporte sobem, tudo fica mais caro. Desde os alimentos até os produtos industrializados, tudo que chega às prateleiras depende do transporte rodoviário. E se os custos aumentarem, o consumidor final é quem vai pagar a conta.

A Voz dos Caminhoneiros

Sindicatos estaduais também marcaram presença na reunião da Comissão de Viação de Transportes. Janderson Maçanero, da Associação de Caminhoneiros de Santa Catarina, foi direto ao ponto: “Cada centavo sobre o custo do pneu eleva a taxa de transporte no país inteiro.” E ele está absolutamente certo. O aumento no preço dos pneus vai onerar não só os caminhoneiros, mas toda a cadeia logística do país. Além disso, Maçanero trouxe um ponto importante sobre a segurança. Pneus mais baratos, segundo ele, aumentam a segurança e reduzem os acidentes.

Essa preocupação com a segurança é algo que sempre me chamou a atenção. Pneus de má qualidade ou desgastados são uma das principais causas de acidentes nas estradas. E sabemos que os caminhoneiros, em geral, têm uma margem de lucro apertada, o que faz com que muitos optem por soluções mais baratas, mas nem sempre seguras. Se os pneus ficarem mais caros, o risco de acidentes pode aumentar, e isso deve ser uma preocupação central nesse debate.

A Questão do Lucro das Multinacionais

Por fim, há a questão das multinacionais de pneus que operam no Brasil. A Abidip trouxe à tona uma prática que, segundo eles, tem sido comum entre essas empresas: o superfaturamento dos preços da matéria-prima. De acordo com a associação, as subsidiárias brasileiras de gigantes como Goodyear e Bridgestone são praticamente obrigadas a comprar matéria-prima de suas matrizes no exterior, o que acaba encarecendo os custos e limitando o lucro das operações no Brasil.

Essa prática, se confirmada, revela um outro lado dessa disputa: as multinacionais estão buscando formas de manter seus lucros elevados, mesmo que isso signifique aumentar os preços para o consumidor final. E, nesse contexto, o aumento da tarifa de importação pode ser visto como uma forma de proteção para essas empresas, em detrimento dos caminhoneiros e da economia brasileira como um todo.

O Caminho Adiante

Com todos esses argumentos sobre a mesa, é difícil prever qual será o desfecho dessa disputa. De um lado, temos a indústria de pneus, que busca proteger seus interesses e garantir sua sobrevivência em um mercado altamente competitivo. De outro, temos os caminhoneiros, uma categoria que já enfrentou inúmeras dificuldades e que não tem margem para absorver mais um aumento nos custos de operação.

Pessoalmente, acredito que o aumento da tarifa de importação de pneus seria um erro, especialmente no atual cenário econômico. O Brasil já enfrenta desafios suficientes, e a última coisa que precisamos é de uma nova greve dos caminhoneiros ou de um aumento generalizado nos preços de transporte. Além disso, a questão da segurança nas estradas não pode ser ignorada. Pneus mais caros podem levar a escolhas mais arriscadas, e isso coloca em perigo a vida de todos nós que dependemos das rodovias.

O Parlamento e o Governo precisam analisar essa questão com muito cuidado e considerar todas as implicações antes de tomar uma decisão. Afinal, estamos falando de uma medida que pode impactar diretamente milhões de brasileiros, desde os caminhoneiros até o consumidor final. Que seja uma decisão sensata e equilibrada, levando em conta tanto a necessidade de proteger a indústria nacional quanto o direito dos caminhoneiros de continuar trabalhando de forma digna e segura.


Para saber mais sobre questões de transporte e economia, recomendo conferir o site MasterMaverick, onde você encontrará análises detalhadas sobre os principais desafios enfrentados pelo setor no Brasil.

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