Especialistas alertam sobre como administrar a gratificação natalina com inteligência financeira
O fim de ano traz uma enxurrada de despesas que, muitas vezes, apertam o orçamento das famílias brasileiras. Entre presentes de Natal, IPTU, IPVA, viagens, e custos com matrícula e materiais escolares, o período pode se transformar em um desafio financeiro. Nesse cenário, o décimo terceiro salário surge como um importante reforço para equilibrar as contas. Mas como aproveitá-lo de maneira estratégica e evitar armadilhas financeiras?
Instituído em 1962, o décimo terceiro salário é um direito garantido para trabalhadores com carteira assinada, servidores públicos, aposentados e pensionistas. Por lei, ele deve ser pago em duas parcelas: a primeira até 30 de novembro e a segunda até 20 de dezembro. Apesar disso, é permitido que as empresas optem pelo pagamento em uma única parcela, descontando os encargos obrigatórios, como Imposto de Renda, FGTS e INSS.
Para além da chegada de uma renda extra, especialistas apontam que a maneira como este recurso é utilizado pode determinar o sucesso ou fracasso do planejamento financeiro familiar.
Cuidado com impulsos: como evitar que o décimo terceiro vire dor de cabeça
Gracilene Mendes, professora dos cursos de Administração e Ciências Contábeis da UniFG e integrante do Ecossistema Ânima, destaca a importância de encarar o décimo terceiro como mais do que uma gratificação temporária. “Esse valor deve ser visto como uma oportunidade para garantir estabilidade financeira no curto, médio e longo prazo”, explica.
Segundo Mendes, muitos trabalhadores cometem o erro de utilizar a gratificação para cobrir gastos impulsivos, como viagens e festas não planejadas. “Essas despesas devem ser custeadas com reservas previamente organizadas para esse fim, evitando a utilização desordenada do décimo terceiro”, ressalta.
A especialista enfatiza que a prioridade deve ser a quitação de dívidas já existentes. “A pior escolha é contrair novos débitos por meio de compras parceladas. É fundamental lembrar que você não terá essa gratificação nos meses seguintes para arcar com prestações futuras”, alerta Mendes.
Organização e investimentos: estratégias para um futuro financeiro mais sólido
Outro ponto levantado pela professora é a necessidade de planejamento para o início do ano seguinte, período tradicionalmente marcado por despesas como o pagamento do IPVA, aquisição de material escolar e renovação de matrículas. “Utilizar parte do décimo terceiro para antecipar essas despesas pode evitar o acúmulo de dívidas e trazer mais tranquilidade ao orçamento familiar”, aconselha.
Além disso, a especialista destaca a relevância de criar ou fortalecer uma reserva de emergência. “Ter um fundo de reserva é essencial para lidar com imprevistos. Parte do décimo terceiro pode ser destinada a essa finalidade, garantindo segurança financeira para situações inesperadas”, sugere.
Quando o assunto é investimento, Mendes orienta que a escolha deve recair sobre aplicações seguras e de alta liquidez, como o Tesouro Direto ou CDBs (Certificados de Depósito Bancário). “São opções que permitem o resgate fácil do dinheiro sem perda de valor, uma vantagem importante em um contexto de instabilidade política e econômica no Brasil”, destaca.
A voz da especialista: dicas práticas para administrar o décimo terceiro
- Evite compras por impulso: “Planeje os gastos e priorize itens que realmente são necessários ou que já estavam no orçamento.”
- Quite dívidas prioritárias: “Dê preferência às que possuem juros mais altos, como as de cartão de crédito ou cheque especial.”
- Crie uma reserva de emergência: “Esse fundo pode ser vital em momentos de crise ou para despesas inesperadas.”
- Planeje os gastos de início de ano: “Separe uma parte do dinheiro para impostos e despesas sazonais.”
- Invista de forma segura: “Opte por aplicações em renda fixa com liquidez para garantir flexibilidade e segurança.”
O desafio de conciliar consumo e planejamento
O décimo terceiro salário é, sem dúvidas, uma ajuda bem-vinda no fim do ano, mas sua gestão requer disciplina e planejamento. Para muitos brasileiros, ele pode ser uma oportunidade de aliviar dívidas, organizar o orçamento e até iniciar uma jornada de investimentos. Contudo, para evitar que a gratificação se transforme em uma armadilha financeira, é fundamental resistir ao consumismo desenfreado e pensar no longo prazo.
“Viagens e festas são importantes, mas só devem ser realizadas quando fazem parte de um planejamento financeiro”, reforça Gracilene Mendes. “Usar essa renda extra com sabedoria pode ser o diferencial para começar o próximo ano sem sufoco financeiro.”
O final do ano pode ser um convite ao consumo, mas com organização, o décimo terceiro se transforma em uma ferramenta poderosa para fortalecer a saúde financeira. A escolha está nas mãos de cada trabalhador: gastar ou investir de forma consciente?