
Sumaya Lima estreia na literatura com contos que desafiam silêncios e expõem as feridas da alma
Quando o Silêncio Grita
Há livros que nos encontram em momentos precisos, como se fossem sementes plantadas para florescer no solo da nossa inquietação. As sementes que o fogo germina (Mondru Editora, 84 págs.), obra de estreia da escritora paulistana Sumaya Lima, é um desses casos. Com uma prosa que oscila entre a crueza e a poesia, a autora mergulha em temas como a solidão da senilidade, as relações abusivas e as contradições do cotidiano, transformando o indizível em literatura.
Neste artigo, exploraremos como Sumaya Lima constrói um universo narrativo onde a tragédia e a ironia se entrelaçam, revelando uma voz única na literatura brasileira contemporânea. Vamos além do release: analisaremos a estrutura dos contos, as influências artísticas da autora e o que torna essa obra um fenômeno silencioso — mas potente — no cenário literário.
Entre a Ironia e o Lirismo — A Obra que Não Tem Medo do Escuro
“A literatura, como todas as artes, não deve se furtar à exploração de nenhum aspecto da condição humana, por mais sombrio que seja”, afirma Sumaya Lima em entrevista. E é exatamente isso que ela faz em As sementes que o fogo germina . Os 26 contos do livro são como janelas abertas para situações desconcertantes: uma senhora de 94 anos é lançada de uma ponte sem explicação, um menino busca na natureza a cura para sua mudez e um avô revive memórias sensoriais da neta em seus momentos finais.
A crítica especializada já comparou a estrutura da obra a um quebra-cabeça: histórias que parecem ter início, meio e fim, mas que, de repente, se desdobram em novos capítulos, revelando camadas antes escondidas. Alexandre Arbex, escritor finalista do Prêmio Jabuti e responsável pelo texto de orelha, sintetiza: “As histórias parecem começar sempre um pouco antes ou logo depois de alguma tragédia subentendida, nos dando a impressão de que chegamos tarde demais”.
A Chave Narrativa: Personagens em Estado de Fuga
Sumaya não oferece respostas fáceis. Seus personagens são complexos, movidos por ressentimentos e vazios que os levam a cometer atos trágicos ou a sucumbir à passividade. “Elas [as personagens] lidam com forte ressentimento e permanente estado de falta”, explica a autora. Essa ambiguidade é proposital: “Não quero que o leitor julgue, mas que sinta a mesma inquietação que eu senti ao escrever”.
Sumaya Lima — Da Preparação de Textos à Criação Literária
A jornada de Sumaya até aqui é digna de um conto. Formada em Letras pela USP em 2004, ela acumula mais de 25 anos de experiência como editora, preparadora de originais e revisora freelancer. Trabalhou em editoras como Cosac Naify e José Olympio, além de multinacionais e agências de publicidade. Mas foi em 2020, durante as oficinas literárias online do escritor Tiago Velasco, que ela decidiu migrar do papel de leitora para o de escritora.
“Sempre escrevi poesia, mas a prosa de ficção me capturou de imediato”, conta. O incentivo veio de perto: Alexandre Arbex, amigo e mentor, aprovou os primeiros rascunhos. Não por acaso, ele assina o texto de orelha do livro.
Influências que Germinaram
Sumaya cita uma constelação de artistas como inspiração para As sementes que o fogo germina : de Roland Barthes a Machado de Assis, passando por filmes como O Beijo da Mulher Aranha e a música de Beth Carvalho. “Essas referências não são decoração. São ferramentas para criar uma experiência ativa de leitura, onde o significado é construído pelo leitor”, explica.
Por Que Este Livro Precisa ser Lido?
Em um mundo onde a superficialidade muitas vezes domina, As sementes que o fogo germina é um antídoto. A obra não apenas aborda temas urgentes — como o abandono de idosos e o bullying infantil —, mas os faz com uma linguagem que desafia o lugar-comum.
Um dos pontos altos é a forma como a autora lida com o tempo. Em contos como A Carta (veja o trecho abaixo), a memória é um redemoinho que conecta passado e presente:
“Meu pai tinha segredos enovelados nos órgãos internos como teias tumorais. Estrangulado, sem vazão, privado de si, era um corpo tomado por uma batalha entre a razão de ser e a impossibilidade de ser.”
Essa passagem, emblemática, mostra como Sumaya transforma a dor em arte. Não é à toa que o livro foi reescrito mais de 20 vezes: “É um inventário de histórias que necessitaram do meu corpo para vir à tona”, revela.
A Literatura como Espelho da Alma
As sementes que o fogo germina não é um livro fácil, mas é necessário. Sumaya Lima nos convida a encarar as sombras da condição humana sem medo, usando a ficção como ponte entre o silêncio e a voz. Como ela mesma define: “Este livro tem o desejo de chegar ao leitor na forma de tesão, de dor, de alegria e desespero”.
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